sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ebós Oferendas e sacríficios

Nos mais antigos tempos da raça humana, as pessoas tentavam barganhar; negociar com  as suas Divindades, através dos sacrifícios. Não sendo indiferentes as dificuldades da vida, era fácil entender que o sacríficio era algo que um Deus apreciaria ( a palavra sacríficio, significa: " SACRO OFÍCIO "  ou seja: trabalho sagrado ou trabalho dos Deuses ). Para uma Divindade protetora do rebanho de cabras por exemplo, era apropiado sacrificar o mais perfeito cabrito ou carneiro. Para o Deus do plantio de inhame, era apropiado o maior e mais perfeito inhame da colheita. Todas as Divindades apreciavam alimentos, pois se acreditava que viviam na parte espiritual dos mesmos- o grande espírito ancestral da terra. Como apenas a energia espiritual do alimento, fosse para o Deus ofertado, a tribo não só podia, como deveria comer a  oferenda. Compartilhar com seus irmãos, do alimento sagrada junto a Divindade. Com o tempo, os antigos sacerdotes puderam perceber qual era a oferenda mais indicada, para se conseguir o fim que se esperava, o mais rapídamente possível. Na verdade a idéia em que se baseia o sistema de oferendas, vem de um sistema de escrita, que como toda linguagem, possui fundamentalmente o objetivo de transmitir mensagens ( neste caso, "sacro ofício"- sacríficio, era a mensagem destinada exclusivamente aos Deuses ). Vejamos melhor estes conceitos: Apesar da ciência dita "oficial" , afirmar que os antigos Negros não possuiam nenhum sistema de escrita, o que os caracterizava como algo próximo aos animais, na verdade, os antigos Africanos da raça Negra, possuiam sim, não um , mas vários sistemas de escrita, como o sistema ideográfico ( símbolos visuais capazes de transmitir idéias, como por exemplo: as onifás do Oráculo de Ifá ) e entre outros, utilizavam-se muito de um sistema chamado escrita fonológica, um exemplo bem claro está no aròkó Iorubá, um sistema complexo utilizado por líderes militares, Reis e príncipes, o qual se consistia de arranjos de búzios e determinadas penas que construiam, às vezes uma representação silábica e portanto fonológica das palavras. A escrita fonológica representa graficamente os sons da linguagem ( fonemas ou sílabas ) e não envolve a prática das oferendas ( sacr´ficios) dentro da cultura Iorubá, está intimamente ligado a idéia da escrita fonológica, como veremos; TODA OFERENDA É SEMPRE UMA TRANSMISSÃO DE MENSAGEM, ATRVÉS DE PENSAMENTOS, SONS E ELEMENTOS MATERIAIS, seja estes elementos unidos ou separados. Dentro do sistema de oferendas os Ofòs ( encantamentos ) dos materiais, diziam os antigos sacerdotes que cada pensamento de um Orí ( cabeça física e espiritual ) têm um som especial, o qual equivale a uma forma; com pensamento, som e movimento, aquele que conhecesse a técnica , poderia quebrar ossos, provocar incêndios, destruir orgãos de um inimigo e também curar os doentes e fazer grandes benefícios. Um nome  ( pensamento e som ), poderia ser uma palavra mortal, principalmente se acompanhada de seu elemento físico ( oferenda ), em seu pensamento, som, forma e movimento. Por isto é importante perceber, o quanto pode ser díficil e ao mesmo tempo importante, a prática correta de uma boa oferenda, para que tenha-se um resultado final e objetivo no que se busca. Que os bons pensamentos, sejam nossa oferenda inicial aos Orísás da sabedoria, que Orunmilá, nos oriente a cada dia somar mais e mais conhecimentos espirituais e a desenvolver o bom carater, até porque só ganha presentes o que merece, QUE SEJAMOS MERECEDORES DE RECEBER AS BENÇÃOS AOS OLHOS DE OLODUMÁRE, QUANDO O MENSAGEIRO LÁ ENTREGAR ,NOSSOS PEDIDOS, DESEJOS E AGRADECIMENTOS.

ASÉ IRE...OOOO!.                                                                                                                                                                                                                                           

terça-feira, 16 de novembro de 2010

AS DUAS FACES DE OSUN

Poderoso Orixá, é considerada como a mais enigmática das Iyás (mães). Símbolo do “feminino”, cujo culto praticado no Brasil tem origem em Ijèsà (África). Seu templo principal encontra-se em Osogbo – Nigéria (ver fotos). Domina a água e a terra que, segundo a teologia Yorubá, são os agentes naturais do AXÉ GENITOR (procriador). É o Orixá do Rio de mesmo nome, e no Brasil, não está vinculada a nenhum rio específico, mas à todos os córregos, cascatas, cachoeiras e até mesmo ao mar. As águas predominantemente lodosas, são destinadas ao Orixá Nanan. Nas cachoeiras, costuma-se entregar a Oxun, as comidas rituais votivas e presentes de seus Filhos-de-Santo. Alguns dizem que o Rio Osun não é navegável. Outros, por superstição, afirmam que só é possível atravessá-lo de uma margem para outra e nunca subi-lo ou descê-lo. Crocodilos que neste rio vivem, são considerados seus mensageiros. Oxun é representada, em algumas narrações como “Peixe Mítico”. Há uma lenda em que Larô, o primeiro rei, de uma região na qual o Rio Oxun passa e suas águas são sempre abundantes, lá se instalou e fez um pacto de aliança com o Orixá. Na época em que chegou, uma de suas filhas foi se banhar. O rio a engoliu sob as águas. Ela só saiu no dia seguinte, soberbamente vestida, e declarou que Oxun a havia bem acolhido no fundo do rio. Larô, para mostrar sua gratidão, veio lhe trazer oferendas. Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer, em sinal de aceitação, os alimentos jogados nas águas. Um grande peixe chegou nadando nas proximidades do lugar onde estava Larô. O peixe cuspiu água, e Larô a recolheu numa cabaça e bebeu, fazendo, assim, um pacto com o rio. Em seguida, ele estendeu suas mãos sobre a água e o grande peixe saltou sobre ela. Isto é dito em yorubá: Atewo gba ejá, o que deu origem a Ataojá, título dos reis do lugar.


Ataojá declarou então: “Oxun gbô!” – “Oxun está em estado de maturidade; suas águas são abundantes”, dando origem ao nome da cidade de Oxogbô. Todos os anos faz-se, grandes festas no local, em comemoração a todos esses acontecimentos. Iyalodê é o título mais honorífico que uma mulher pode receber. Oxun possui este título: A Senhora Suprema de todas as Mulheres. Árbitra das diferenças entre elas.

Mãe Ancestral

 Iyami Akókó

Nas escrituras yorubás, Oxun é citada como chefe suprema do poder ancestral feminino, o que a faz, “o cabeça” da sociedade das Iyámis, também chamadas de Iyá –Àgbà (as Mães Anciãs). Tem associações com os pássaros, como todas as Iyámis. Da mesma forma que os peixes, os pássaros são seus filhos. As escamas e as penas fazem parte de seu poder. Oxun pode apresentar-se como um enorme peixe ou pássaro. Desta preposição, nasceu o preceito de que Oxun não deve receber pombos em suas obrigações. É respeitada como Ajé, isto é, bruxa e feiticeira. Segundo lenda, “No tempo da criação, quando Oxun estava vindo das profundezas do Orun (Céu), Olodunmare confiou-lhe o poder de zelar por cada uma das crianças criadas por Orixá que iriam nascer na Terra. Oxun seria a provedora de crianças. Ela deveria fazer com que as crianças permanecessem no ventre de suas mães, assegurando-lhes, medicamentos e tratamentos apropriados para evitar abortos e contratempos antes do nascimento; mesmo depois de nascida a criança, até ela não estar dotada de razão e não estar falando alguma língua, o desenvolvimento e a obtenção de sua inteligência estariam sob o cuidado de Oxun. Ela não deveria encolerizar-se com ninguém a fim de não recusar uma criança a um inimigo e dar a gravidez a um amigo. E foi a primeira Iyami, encarregada de ser a Olùtójú awon omo ( aquela que vela por todas as crianças) e a Álàwòyè omo (aquela que cura as crianças). Oxun não deve vir a ser inimigo de ninguém”.

Arquétipo

Oxun é a genitora por excelência, ligada à procriação e associada à descendência no AIYÊ (TERRA). É a patrona da gravidez ou gestação. Todo embrião ou feto é colocado sob sua responsabilidade e proteção, até o momento em que o bebê começa a falar. Por analogia, ela é responsável pela iniciação de neófitos (yawôs), que são considerados “embriões”, até o momento da cerimônia de “Dar o Nome”. Assim, toda a iniciação deve ter o cuidado de “louvar” Oxun durante o período de reclusão. A demonstração e comprovação de que Oxun é a “Mãe das Iniciações”, é o uso dos ekodidés, nos oris escanhoados dos iniciandos. Leia a seguir a lenda: “Uma sacerdotisa cujo nome era Omo Òsun (filha ou descendente de Oxun) servia a Òrísànlá e estava encarregada de zelar por seus paramentos e particularmente por sua coroa. Alguns dias antes do festival anual, umas seguidoras de Òrísànlá, invejosas da posição de Omo Òsun, decidiram roubar a cora e joga-la nas águas. Quando Omo Òsun descobriu o furto, seu desespero foi profundo. Uma menina que ela criava aconselhou-a a comprar, no dia seguinte de manhã, o primeiro peixe que encontrasse no mercado. No dia seguinte, Omo Òsun não conseguiu encontrar nenhum peixe e foi somente na sua volta que encontrou um rapaz que trazia um grande peixe à cabeça. Chegando à sua casa, Omo Òsun não conseguia abrir o peixe. A garota apanhou um pedaço de faca muito usado – cacumbu – e facilmente conseguiu fender a barriga do peixe no interior da qual luzia a coroa. Chegando o dia da grande cerimônia, as invejosas sabendo que Omo Òsun havia miraculosamente encontrado a coroa, decidiram recorrer a trabalho mágico para desprestigiar Omo Òsun em frente a Òrísàlá. Elas colocaram um preparado na cadeira de Omo Òsun , situada ao lado do trono de Òrísàlá.

Todo mundo estava reunido e esperava em pé a chegada do grande Oba. Quando chegou, sentou-se e fez sentar-se todos os presentes. Em seguida pediu a Omo Òsun que lhe desse os paramentos. Quando ela quis levantar, foi incapaz de fazê-lo. Tentou veementemente várias vezes a te conseguir, enfim, mas o preço do grande esforço foi desgarrar as partes baixas de seu corpo que começaram a sangrar copiosamente, manchando tudo de vermelho. Òsàlá, cujo tabu é o vermelho,levantou-se inquieto, e Omo Òsun, aturdida e envergonhada, fugiu. Segue-se uma longa odisséia durante a qual Omo Òsun foi bater à porta de todos os Orixás e nenhum deles quis recebê-la. Enfim, ela foi implorar ajuda de Oxun, que a recebeu afetuosamente e transformou o corrimento sangüíneo em penas vermelhas do pássaro odide, chamadas ekódidé ou ikóóde, que iam caindo dentro de uma cabaça, colocada para recebê-las. Diante desse mistério – awo – a transformação do corrimento de sangue em ekódidé, todos regozijaram-se, começando os tambores a rufar e a correrem de todas as partes para assistir ao acontecimento: Yèyè sawo: Mãe fez mistério (Mãe conhece segredo, é mistério). A festa se organizou e todas as noites Oxun abria as portas para receber os visitantes que, entrando, apanhavam um ekódidé e colocavam cauris (dinheiro) na cuia colocada ao lado. Todos os Orixás vieram tomar parte no acontecimento. Finalmente, o próprio Òsàlá foi atraído pelas festividades. Apresentou-se em casa de Oxun e, como os outros, saudou-a fazendo o dòdòbálè, apanhou um ekódidé e o prendeu em seus cabelos. Um cântico relembra para sempre essa circunstância: Òdòfin dòdòbálè k’obinrin – Òdòfin (Òrinsàlà) saúda prostrando-se frente à mulher. Mesmo o grande Orixá Funfun faz o dòdòbálè – alongando-se no solo, tocando-o com o peito em sinal de respeito e de submissão – diante do poder de gestação”.

Por estar comprometida e vinculada à “gestação “, também tem relações com o ciclo menstrual. E devido a seu simbolismo com a maternidade, é saudada como Ye ye, uma forma de dizer “Mãe”. É a ela que se dirigem as mulheres que querem engravidar, sendo sua, a responsabilidade de zelar tanto pelos fetos em gestação como pelas crianças recém-nascidas, até que estas aprendam a falar. Dentro desta perspectiva, Iemanjá e Oxum dividem a maternidade. Mas há também outra forma de análise: a por faixas etárias. Nanan é a matriarca velha, ranzinza, avó que já teve o poder sobre a família e o perdeu, sentindo-se relegada a um segundo plano. Iemanjá, é a mulher adulta e madura, na sua plenitude. É a mãe das lendas – mas nelas, seus filhos são sempre adultos. Apesar de não ter a idade de Oxalá (sendo a segunda esposa do Orixá da criação), não é jovem. É a que tenta manter o clã unido, a que arbitra desavenças entre personalidades contrastantes, é a que chora, pois os filhos adultos já saem debaixo de sua asa e correm os mundos, afastando-se da unidade familiar básica. Para Oxun, então, foi reservado o posto da jovem mãe, da mulher que ainda tem algo de adolescente, maliciosa, ao mesmo tempo que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Sua responsabilidade em ser mãe se restringe às crianças e bebês. Começa antes, na própria fecundação, mas não no seu desenvolvimento como adulto. O arquétipo de Oxun é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas caras; das mulheres que são símbolos do charme e da beleza; voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que Yansan. Elas evitam chocar a opinião pública, à qual dão grande importância. Sob sua aparência graciosa e sedutora, escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social. Oxun também tem como um de seus domínios, a atividade sexual e a sensualidade em si, sendo considerada pelas lendas, uma das figuras físicas mais belas do Panteão Mítico Yorubano. Existem 16 tipos diferentes de Oxun, desde as quase adolescentes, até as mais velhas. Diz a lenda, que as mais velhas, moram nos trechos mais profundos dos rios, enquanto as mais novas nos trechos mais superficiais. Entre essas 16, três são marcadas como guerreiras (Apara, a mais violenta, Iê Iê Kerê, que usa arco e flecha, e Ié Ié Iponda, que usa espada), mas a maior parte delas é mais pacífica, não gostando de lutas e guerras. Oxun é dos poucos Orixás yorubas, que absolutamente não gosta da guerra. A cor de Oxun é o pupa ou pon, que pode ser interpretado tanto como vermelho – o poder da criação humana e animal; o sangue menstrual ou o amarelo – um vermelho mais claro, mais leve e benéfico que pode ser interpretado como “está maduro”. O amarelo-ouro ou pon ròrò é a cor oficial que representa Oxun. Uma outra maneira de dizer vermelho em Nagô, é pupa eyin, literalmente “gema de ovo”. O ovo, além de representar o “óvulo” que dá origem à vida, é o preferido de Oxun em suas comidas, mas também é o símbolo e representação das Iyás-àgbás, ancestrais femininos representados por pássaros. Todos os metais amarelos pertencem a Oxun: Ouro e Bronze.

Outras lendas sobre Oxun

1) Oxun era muito bonita, dengosa e vaidosa. Como o são, geralmente, as belas mulheres. Ela gostava de panos vistosos, marrafas de tartaruga e tinha, sobretudo, uma grande paixão pelas jóias de cobre. Este metal era muito precioso, antigamente, na terra dos Yorubás. Oxun era cliente dos comerciantes de cobre. Oxun lavava suas jóias, antes mesmo de lavar suas crianças. Mas tem, entretanto, a reputação de ser uma boa mãe e atende às súplicas das mulheres que desejam ter filhos. Ela foi a segunda mulher de Xangô, sendo a primeira Yansan e a terceira Obá. Tem humor caprichoso e mutável. Alguns dias, suas águas correm aprazíveis e calmas. Deslizam com graça, frescas e límpidas, entre margens cobertas de brilhante vegetação. Numerosos vãos permitem atravessar de um lado a outro. Outras vezes suas águas, tumultuadas, passam estrondando, cheias de correntezas e torvelinhos, transbordando e inundando campos e florestas. Ninguém poderia atravessar de uma margem à outra, pois ponte nenhuma as ligava. Oxun não toleraria tal ousadia! Quando em fúria, ela leva para longe as canoas que tentam atravessar o rio e as destrói.

2) Olowu, o rei de Owu, seguido de seu exército, ia para a guerra. Por infelicidade, tinha que atravessar o rio num dia em que este estava encolerizado. Olowu fez a Oxum uma promessa solene, entretanto, mal formulada. Ele declarou: “Se você baixar o nível de suas águas, para que eu possa atravessar e seguir para a guerra, e se eu voltar vencedor, prometo a você ‘nkan rere’,” isto é, boas coisas. Oxun compreendeu que ele falava de sua mulher, Nkan, filha do rei de Ibadan. Ela baixou o nível das águas e Olowu continuou sua expedição. Quando ele voltou, algum tempo depois, vitorioso e com um espólio considerável, novamente encontrou Oxun com o humor perturbado. O rio estava turbulento e com suas águas agitadas. Olowu mandou jogar sobre as vagas toda sorte de boas coisas, as nkan rere prometidas: tecidos, búzios, bois, galinhas e escravos. Mel de abelhas e pratos de mulukun, iguaria onde suavemente misturam-se cebolas, feijão fradinho, sal e camarões. Mas Oxum devolveu todas estas coisas boas sobre as margens. Era Nkan, a mulher de Olowu, que ela exigia. Olowu foi obrigado a submeter-se e jogar nas águas a sua mulher. Nkan estava grávida e a criança nasceu no fundo do rio. Oxun, escrupulosamente, devolveu o recém-nascido dizendo: “É Nkan que me foi solenemente prometida e não a criança. Tome-a!”. As águas baixaram e Olowu voltou tristemente para sua terra. O rei de Ibadan, sabendo do fim trágico de sua filha, indignado declarou: “Não foi para que ela servisse de oferenda a um rio, que eu a dei em casamento a Olowu!” Ele guerreou com o genro e o expulsou do país.

TEMPLO DE ÒSÚN – OSOGBO – NIGÉRIA - ÁFRICA




































Bibliografia:

Orixás - Pierre Verger

Lendas Africanas dos Orixás - Pierre Verger

Os Nagô e a Morte – Juana E. Santos


Fonte: Jornalagaxeta.com



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A RELAÇÃO ENTRE ÒRÍ E ÈSÚ

Fá (Ìfá), terrívelmente desolado e infeliz,, malquisto por seu Rei Metolofi, consulta o òráculo para encontrar remédio para sua situação. O Odu Otúrúpon lhe responde que deve juntar todos os frutos redondos que encontrar e levá-los a sua mãe, para que ela faça uma oferenda. Como ela se encontra num lugar extremamente distante, Èsú se oferece, por um galo e algumas gulodices, para servir de mensageiro, chegando à casa da mãe de Fá, Èsú lhe diz que seu filho faleceu e não ha ninguém, para realizar os funerais. Pede-lhe, que venha com urgência ao país de Metolofi. Ela chora: como faze-lo? esta velha e não pode mais andar;   Èsú diz, que pode levá-la se receber alguma coisa...  A mãe tinha um bode de doze chifres, Èsú pede-lho e ela recusa , porque não lhe pertence. Ela diz: " ele pertence a vida " (Mawu, a entidade suprema), apenas o confiaram à mim ". Como Èsú insiste, dizendo que sem ele, não à levaria, a mãe acaba por lhe dar o bode. " E Èsú apanhou o bode e o matou. O sangue que jorrava do corpo do bode era fogo, e o fogo se estendeu por todo lugar e recobriu todo o corpo de Èsú". Ele decidiu consultar Fá, que lhe disse, que fizesse rápidamente uma oferenda com os orgãos internos do bode. Uma vez efetuada a oferenda, Èsú decide cozinhar a cabeça do  animal para comer a carne, coloca à numa panela de barro, mas apesar do fogo e do tempo de cozimento, a cabeça não fica cozida e cansado, Èsú decide conduzir a mãe e levar consigo a comida. Prepara uma rodilha de dezâ. "Ora, nessa época Èsú , ainda, não tinha cabeça". E assim ele coloca a rodilha nos seus ombros e virando o recipiente enegricido, depois de retirar a água, coloca-o por cima. " E o dezâ converteu-se em seu pescoço e a panela em sua cabeça." Cantando, leva à mãe, por meios mágicos, e ambos chegam de imediato ao lado de Fá.  "Fá também não tinha cabeça." Sua mãe conta-lhe a hístória do bode, mas Fá concorda, visto que foi o oráculo quem indicou Èsú para fazer o sacríficio. Ele se lamenta de sua má sorte e de não ter cabeça. É preciso fazer a oferenda com os frutos redondos, ao pé do Rei Metolofi. Ela vai, e lá se desculpa pela modéstia do presente que pode oferecer ao Rei. Este, quer ver do que se trata; A cabaça está cheia de frutos redondos, apanha no seu interior um mamão e introduz-lhe uma faca, dividindo-o em dois. Aparece uma grande quantidade de groás preto e ele aproxima-se para os ver melhor. Nesse instante, o mamão fixa-se em seus ombros e é assim que o Rei adquire uma cabeça. Ele homenageia a mãe e pergunta-lhe seu nome ao que ela responde : Nã. O Rei disse: " a partir de hoje, voçe se chamará, Nã Taxonumeto, a mãe que dá uma cabeça às pessoas". "Foi assim que a partir daquele tempo, para se ter uma cabeça ( filhos), sempre era necessário dirigir-se a Nã ( as mulheres )."  É sob esse signo que os filhos vem ao mundo, a cabeça em primeiro lugar. " A história acaba com dois comentários:  "É no fogo do bode misterioso que vive desde então, Èsú , cujo o rosto talhado no òpón Ìfá aparece coroado de chamas."     E mais adiante: "Foi assim que Èsú adquiriu uma cabeça, graças a  Otúrúpon, que  rege; gravidez e tudo o que é redondo".         Poucos comentários são necessários: destaca-se a relação entre Èsú e o fogo, seu componente iná, associado à força procriadora Egán que Èsú transporta. Sua própia cabeça nasce da interação bode-panela. Será Èsú quem transportará Iyá-mi Nã " que dá uma cabeça as pessoas".  O Orí, a gravidez, e o nascimento de filhos são possíveis, graças a atividade de Èsú. É importante ressaltar que os filhos chegam ao àyé, "a cabeça em primeiro lugar ". Com efeito, Orí é o que individualiza, será o primeiro a nascer e o ultimo `expirar. Orí também será o primeiro que deverá ser venerado por um ìndivíduo, antes mesmo de seu Òrísá.  "Òrí... cuida do interesse individual e pessoal, enquanto Òrisá existe no interesse da tribo como um todo... coletivo.      (texto transcrito por Maupoil; 1943. 534sss , o qual  repasso aqui com a ùnica finalidade de partilhar, conhecimento e entendimento do culto.)   

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

COMO ÈSÚ GANHOU A PRIMAZIA SOBRE OS ÒRÌSÁS

"... Esta é a história do modo como Èsú tomou a primazia das mãos de todos os Òrìsás e Eboras que até então eram seus mais velhos. Quando Èsú tentava apoderar-se do comando, foi consultar Ìfá para saber como este pensamento poderia se tornar realidade. Ele foi consultar o oráculo dos seguintes Babaláwòs: "Bater-se desesperadamente não faz a ancianidade, a quem Olóòrún cria como senhor é aquele que chamamos de pai na terra" e "Bater-se desesperadamente não faz a ancianidade, a quem Olóòrún cria como senhor é aquele que chamamos de pai nos espaços do Òrún". Todos eles jogaram Ìfá para Èsú Odara, no dia em que ele foi procurar se tornar o mais importante sobre os dezesseis Irúnmàlé do mundo. Disseram, voçê Èsú, disseram, voçê deve oferecer um sacríficio, disseram, o sacríficio que voçê fará, disseram,  seria afim de que aquilo que voçê pensa, venha a ser verdade. Èsú perguntou o que deveria oferecer em sacríficio, Eles Disseram: três penas de papagaio vermelho, ikodé, três galos de crista bem madura. Disseram que deveria adicionar quinze centavos e azeite de dendê e fazer uma oferenda de palmas recém-brotadas, mariwò. Èsú fez a oferenda à todos os Babaláwòs. Depois que fez a oferenda, eles decidiram lhe dar uma pena de papagaio vermelho, ikodé. Disseram para leva-lá sobre ele mesmo o tempo todo. Disseram para não se servir de sua cabeça para transportar nenhum carrego, disseram não antes de três meses. Então Èsú se preparou: apanhou sua única pena de papagaio vermelho e a colocou na cabeça. Quando Èsú estava para partir, Eledunmare teve um pensamento a partir da mensagem transmitida pela oferenda. Eledunmare teve então essa ìdéia: gostaria de conhecer aquele que estivesse dando o melhor de si, zelando pelo bom andamento do mundo, entre todos os Òrisá e os Ebora que ele tinha criado. Ele disse então que todos deveriam vir a fim de lhes perguntar até que ponto estavam administrando os assuntos da terra. Quando ele lhes pediu que viessem, cada um preparou as coisas com as quais adoraria Eledunmare. Eles as arrumaram em pequenos carregos. Quando arrumaram todos esses carregos, todos se reuniram, Òrisà'nlá e Olookun e Ògún, Osóòsi e Obalufon, Òrunmilá e Òrisáoko e todos os outros. Todos eles incluindo Òsún, estavam se preparando para ficarem prontos para partir em direção aos espaços abertos de Òrún. Partiram para a viagem...    Em fila, "um atrás do outro".  Quando Èsú se pôs a caminho, se perguntou. se se forçasse a carregar qualquer coisa agora, bem, será que a oferenda que acabava de ser feita pára ele, bem, será que tudo não ficaria inutilizado? Para isso, se lhe fizessem perguntas, saberia o que dizer: Que era uma propiação que tinha sido feito para ele e que não podia levar carregos naquele momento. Depois Èsú apanhou sua pena de papagaio vermelho, ikodé e a colocou na cabeça. Ele não colocou nenhum gorro. Todos os Òrisá, os que tinham colocado um gorro, os que tinham colocado coroas, os que tinham colocado chapéus, os que também levavam carregos, os que também levavam seus embrulhos na mão, mas Èsú não levava nada e não colocou gorro, nem carregava pacote; assim iam todos eles. Quando alcançaram os espaços de Eledunmare, foram e colocaram-se em sua direção; quando estavam assim, foi ele própio que lhes apareceu. Depois que Eledunmare os fitou por um bom espaço de tempo, não lhes fez nenhuma pergunta sobre a maneira como se tinham conduzido na terra, porque Eledunmare  é Olúmonokòn ( aquele que conhece os corações ). Fitando-os assim, disse, todos voçês que estão lá em pé, e disse, a pessoa que carregou ikodé em sua cabeça. Disse, que deveriam fazê-lo aproximar-se. Assim ele veio. Ele disse, voçê que veio revelar isto: voçê é aquele que reuniu todos os habitantes da terra e esteve fazendo mais trabalhos para eles, disse, voçê é aquele que os conduziu até aqui. Èsú não disse nada. "que isto se cumpra", disse Èsú. Nesse dia Eledunmare disse a todos, numa resposta pronunciada num tom sem réplica: " quando voçês chegarem aos seus lugares de morada, para onde retornarão, tudo o que devem fazer, aquele que foi seu líder, que carregou o emblema Egán em sua cabeça, é a quem voçês devem procurar e falar. Ele deverá trazer-me todas as sugestões de voçês, porque hoje voçês mostraram que aquele que os guiou para que pudessem submeter-me suas sugestões, antes de as pôr em execução, é ele. E por isso ele viu Egán em sua cabeça. E ninguém discutiu. Eis como Èsú veio a conduzi-los todos de volta à terra nesse particular momento. A canção que eles cantaram nesse dia, no caminho de volta, dizia: "Èsú não levou carrego de homenagem e submissão, Èsú não levou carrego de homenagem e submissão; ( porque ) Egán vermelho erguia-se destacando-se em sua cabeça; Èsú não podia levar carrego de homenagem e submissão." Assim retornou a terra; quando chegou a terra, ele disse então que daria uma festa comemorativa porque Eledunmare lhe tinha dado poder e status conhecido de todos os Òrisás; aqueles que ignorassem a autoridade de Èsú, Èsú faria com eles como a corda dobra o arco e como Àrìnàkò se abate sobre o caracol. E Èsú festejou o alegre acontecimento entre os quatrocentos Irúnmàlè, do lado direito e os duzentos màlè do lado esquerdo. Por esta razão, todos os Òrisá começaram a imitar seu costume colocando pena ikodé como emblema de Àsé durante seus ritos de celebração anual ou como emblema de sacríficio propíciatório cada vez que eram realizados. É por isso que a pena ikodé, se tornou um preceito tradicional para todos eles. Essa pena de papagaio vermelho, Èsú foi o primeiro a leva-la aos vastos espaços de Òrún de acordo com que ele havia escutado dos Babaláwòs que tinham consultado o oráculo de Ìfá para ele, sobre a maneira como apossar-se do senhorio. É por isso que essa pena de papagaio vermelho foi chamada de Egán. Cada vez que se quer iniciar alguém no culto de Ìfá até hoje, coloca-se esse Egán na cabeça desta pessoa, que passára a ser Elegán ( o senhor do Egán ), onde for iniciado, e ela não deve colocar carrego sobre sua cabeça durante sete dias, depois dos quais ela pode retirar esse Egán. Este é o Àsé de Èsú cujo poder lhe foi dado por Eledunmare, quando ele se serviu disso para conquistar o senhor sobre todos os Òrisás. Nenhuma pessoa deve colocar esta pena para brincar; até hoje, se alguém o coloca em sua cabeça por brincadeira, e permanece por algum tempo, essa pessoa provoca a cólera de Èsú. Salvo quando esta pessoa se serviu disso quando de uma oferenda dirígida aos  irúnmàlè ou aos Òrisá. Essa pena foi utilizada por Èsú para tomar a soberania das mãos de todos os Òrisás naquele tempo. Ele começou a elogiar os sacerdotes de Ìfá. Ele lhes agradecia sinceramente, "Bater-se desesperadamente não faz a ancianidade; a que Olórun cria como um Senhor é aquele a quem chamamos pai na terra". e "Aquele a quem Olórun cria como senhor, é aquele que chamamos pai no Òrún ". Esses foram os sacerdotes que consultaram Ìfá para Èsú Òdàrà quando ele queria tomar o senhorio das mãos dos dezesseís Irúnmàlè. Esú Òdàrà é aquele, quando voçês se levantam, ao qual é preciso fazer apelo para que ele lhes providencie o alimento. Èsú Òdàrà! É ele o qual quando nos levantamos , precisamos fazer apelo para que ele nos providencie à todas as nossas necessidades. Èsú Òdarà é aquele que guiou todos os Irúnmàlè de retorno a terra. Eis como Èsú ganhou a soberania daquele tempo até agora. Não existe ninguém que coma ou esteja instalado com realeza, sem que haja recorrido a Èsú primeiro. Então as pessoas disseram: demos a Èsú o que lhe é de direito para não causar seu descontentamento de maneira a que o que desejamos fazer chegue ao bom termo. Então Èsú tornou-se o Asíwájú; aquele que vai na frente de todas as pessoas na terra, pela segunda vez. È assim que Òséòtùrá conta essa história sobre Èsú...." .  "Mojubá Elegbara, Elegbá Ago, Baralayìkì, Èsú Òdàrà. Mojubá Èsú Lonã, moren'la; kosì ikú; kosì arun; kosì ofo; kosì aráyé; fun mi : ìre owo, ìre omo, ìre omã, ìre arìkú Babá wa.          Trad; Saúdo à Elegbara, peço a sua permissão; Elegba Baralayikí Èsú o bom; Saúdo Èsú dos caminhos, meu grande amigo, permita que não haja more, que não haja doença, que não haja perdas, que não haja problemas terrenos. conceda me bençãos de dinheiro, filhos, inteligência, saúde e bem estar.  Àsééé oo....

domingo, 24 de outubro de 2010

OGUN

Dentro do segundo dia da criação, surgem os elementos naturais na criação cósmica, Ògún é o patrono deste dia por ser aquele que é " O Rei na casa e na forja ". A idéia da metalurgia em sentido filosófico dentro do Ìfá, nos diz da capacidade de unir as peças em atrito e desta união, conseguir um novo elemento. A descoberta do ferro na Africa foi uma revolução ímpar, desde a invenção da Olaria no período Neolítico Africano, há aproximadamente 6.500 anos, até o período Gerziano (4.000 anos ) aonde além da utilização do ouro e da prata, começa enfim, a do ferro e do chumbo, "o segredo da forja " foi concentrado em clâs de ferreiros, que detentores da nova técnica, se impunham sobre povos menos avançados. Sua origem parece estar ligada a cidade de Meróe, capital da Núbia, aonde descobriram-se montes seculares de escórias de ferro acumulados no decorrer de uma atividade metalúrgica dos séculos VII- VI antes de Cristo, período em que o bronze era tão raro que os prisioneiros da Etiópia eram acorrentados com correntes de ouro. Considerado o Rei dos metais, por suas características específicas, o ferro proporcionou utensílios que triplicaram as possibilidades de caça e de cultura, permitindo a chance de explorações mais intensas em novas regiões, normalmente pesadas e abundantes em florestas. Neste aspecto, o ferro símboliza, o progresso da produtividade do trabalho agrário, dinamizando um crescimento da população e por consequência, de povoamentos. Nestas regiões, uma nova organização de relações sociais, vem a formar sociedades complexas e hierarquizadas, cujas as bases centrais, seriam as armas e os utensílios de ferro, daí a importância das castas de ferreiros, detentores da tecnologia do ferro, portanto, geradores de poderio militar e desenvolvimento social; compreendendo-se assim, o porque de várias tradições Africanas, falarem de antepassados que eram Reis-Ferreiros, monopolizadores, pelo menos, no começo, da preciosa técnica, o " O SEGREDO DA FORJA " ( AWOGÚN), esta técnica quando analizada filosóficamente pelo Ìfá, nos da a compreensão da atuação dos elementos no mundo e no ser humano. Sendo assim, é exatamente pelo segredo da forja, que Ògún se torna o patrono do segundo dia da criação, o Òjó Ògún; Ògún é o Deus do ferro e de tudo o que ele representa, originariamente associado ao ofício de ferreiro e a agricultura; com o advento da escravidão, evidenciou-se, principalmente nas Américas, suas características de imbátivel guerreiro. Filho mais velho de Oduduwa, o fundador de Ilè Ifé, local reconhecido pelo povo Iorubá como fonte mística do poder e legitimidade. Ògún teria se tornado o regente de Ifé, quando Oduduwá ficou cego. De temperamento violento e enérgico, são inúmeras as lendas sobre suas vitórias e criatividade artezanal sobre a forja. Ao nível mítico-religioso, Ògún teria sido o único Deus sobrevivente dos "duzentos Deuses da direita " os Igbá Imole, destruídos por O lodumare por terem se conduzido mal; Deuses estes, que sem exceção, vestiam-se todos com folhas de Maríwò; Daí ser estas folhas desfiadas, um de seus símbolos. O processo de criação representado por Ìfá, é baseado em um desenvolvimento contínuo, estruturado em princípios fixos. Ao analizarmos o Òjó Ògún, temos que ter em mente o "segredo da forja ", a arte este segredo, foi a sábia manipulação das relações entre os elementos naturais, para a obtenção da liga do ferro na forja. Tanto melhor o utensílio a ser forjado, quanto maior a sabedoria do ferreiro em manipular o minério de ferro (terra), a temperatura ideal na olaria (fogo), que era controlada pelo fole (ar ) e por fim, a água, colocada dentro de um pequeno tanque, aonde era seguidamente apagado o ferro em brasa, até a obtenção da liga ideal. Seria natural então, que sendo esta técnica tão essencial no desenvolvimento humano em Africa, ela ganhasse conotações místicas e mágicas, sendo os clãs e Reis-ferreiros, possuidores dos segredos da transmutação da natureza, portanto da vida. Sendo do segredo do ferro, a origem da busca ao conhecimento dos segredos da natureza e do aperfeiçoamento da alma, utilizando os elementos ar, água, fogo e terra, como símbolos de aspectos comportamentais, morais, etc, sendo o homem, aquele que molda sobre a forja do conhecimento o seu destino. Tanto nestes conceitos filosóficos foram importantes na análisedo homem em relação ao cosmos, que durante os vários séculos que se seguiram após sua descoberta vieram a ser chamados de Alquímia. Sendo fácil a comprenssão que o Rei-ferreiro de 3 mil anos atrás, seja o antepassado técnico e filosófico dos alquimistas do séc. III D.C. ( período Alexandrino ), como químicos de hoje. Ògún, como personagem histórico, teria sido o filho mais velho de Oduduwá, o fundador da cidade de Ìle Ifé. Era um temível guerreiro e grande conquistador, que brigava sem cessar contra reinos vizinhos. Dessas expedições, ele trazia sempre um rico espólio e numerosos escravos. Guerreou contra várias cidades destruindo-as. Saqueou e devastou muitos outros estados e apossou-se da cidade de Ire, matou o Rei e ali instalou seu própio filho no trono e regressou  glorioso, usando ele mesmo o título de Oniire, "Rei de Ire ". Ògún foi o mais enérgico dos filhos de Oduduwá e foi ele que se tornou o rei  de Ìle Ifé, quando Oduduwá ficou cego. Ògún é um só, no entanto associado as sete aldeias, hoje desaparecidas, que existiram em volta de Ire. Por isso o número sete lhe ser associado. Os lugares consagrados a Ògún ficam ao ar livre, na entrada de pálacios dos Reis e nos mercados. Também sempre estar presente nas entradas dos templos de outros orisás. Ògún é provavelmente, o Orisá mais respeitado e temido. Um juramento feito em seu nome, com uma faca entre os dentes, representa um dos mais profundos e sérios votos que alguém pode fazer, independente de ser ou não, um filho deste Orisá. Sua origem relaciona-se aos primeiros Òrisás criados por Eledumare, os quais foram destruídos pelo seu própio criador, todos eles vestiam-se de mariwò e eram altamente violentos e sanguinários, nenhum Iorubá, ousaria invocar o nome de um destes Òrisás, tamanha é a força negativa e altamente destrutiva que a simples menção de  um destes nomes é capaz de liberar. Dentre estas divindades, a única que conseguiu sobreviver ´e Ògún, pois neste Òrisá, Eledumare percebeu aspectos positivos para o ser humano e para o desenvolvimento da criação universal, tanto assim procede, que foi Ògún que ensinou o ser humano a forjar os instrumentos de ferro para o plantio. ( só depois é que o ser humano usou estes mesmos instrumentos para a guerra) devido a este fato, Ògún é considerado o Asiwaju ( o que vai a frente) dos outros Òrisás.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ILE IFE


Os filhos de Oduduwa iniciaram as diversas dinastias Yorùbá que se instalaram na região entre os anos 600 e 900 da nossa Era, provenientes provavelmente do Alto Nilo. Alguns especialistas afirmam que a cultura Yorùbá tem parentesco com a egípcia, e outros, com a da Núbia. Ambas as opiniões consideram também a possibilidade de que, atrávés da Abissínia( região que fica a atual Etìópia ), a cultura Yorùbá tenha parentesco com a helenista. Há, por fim, os que sustentam que Ifè, cidade santa dos Yorùbá, seja Ufa, a cidade mencionada na bíblia onde os fenícios adquìriam ouro a pedido do rei Salomão. Até hoje, no entanto, nenhuma das hìpóteses foi comprovada. Capital do primeiro reino, Ifè alcançou rapidamente um notável desenvolvimento religioso e político, desempenhando numerosas funções no seio dos diversos reinos Yorùbás, especialmente no campo espiritual. Ifè atingiu o auge do resplendor entre os séculos 12 e 14. Seu apogeu foi no século 13. A partir do século 14, deixa de ser o centro político da potência Yorùbá, mas continua a exercer o papel de cidade santa. O rei de Ifè é considerado o pai de todos os reis Yorùbá. A cidade é ainda capital do reino orìgìnário e, segundo se acredita, constitui o centro da terra. Ali, a trra teria começado a se formar e ali teria descido a divindade pai- ou mãe-de todos os viventes para fundar e reinar sobre "sua" primeira cidade. De fato, um mito mesclando história e lenda afirma que Oduduwa, o ancetral divino de todos os Yorùbá, desceu do céu e depositou sobre as águas um pouco de terra e uma galinha. Esta, ao ciscar, lançou terra em diversas direções. É assim, que, ao redor de Ifè, o mundo começou a ser criado. Não é de se estranhar, portanto, que os Yorùbá tenham como centro de sua religiosidade um Deus criador e que possuam um forte sentido da constante presença divina em sua vida cotidiana. O que não os impede, no entanto, de seguir uma religião politeísta, com sociedades iniciáticas secretas nas quais se celebravam festas com sacrìfícios humanos. Isso explica também o motivo de, ainda hoje, os Yorùbá serem muito religiosos, embora pluralistas no que diz respeito a que religião praticar. Há, por exemplo, famílias nas quais o pai é muçulmano, a mãe segue a religião tradicional e os filhos são católicos ou protestantes. A história da região ocupada pelos Yorùbá é particulamente interessante. Estados e ìmpérios se formaram na faixa entre o deserto e a grande selva, favorecidos pela abundância de água e de outros recursos naturais. E também pelo fato de ser rota obrígatória de pessoas e mercadorias provenientes dos desertos do norte em direção ao oceano. Ifè, ainda em tempos antigos, logo se transformou em terra de intensos intercâmbios comerciais e em berço de uma civilização florescente. Seus artistas utilizavam a arte para celebrar e transmitir valores considerados essenciais. A arte de Ifè, tipicamente ligada à corte, cria máscaras, cabeças e figuras de bronze, latão ou barro cozido, carregados de valor vital e modelados com tal sensibilidade, habilidade técnica e forma que chegam quase a atingir a perfeição absoluta. Numerosos estudos arqueológico da região oferecem testemunhos artísticos que não ficam devendo nada às culturas clássicas de qualquer outra região do mundo. As cabeças de bronze e as peças de cerâmica de Ifè, bem como os soldados de bronze de Benin- reino antigo que não deve ser confundido com o país que hoje leva esse nome-, figuram entre as obras-primas da arte mundial. A arte Yorùbá se desenvolveu a partir do século 14, tendo seu momentos de máximo esplendor entre 1575 e 1650. Os tecidos de ráfia e algodão, as jóias de ouro, as cerâmicas decoradas e as grandes e populosas cidades eram características de uma civilização eminente urbana. Seu eixo econ?omico e militar estava assentado sobre o uso do cavalo, que foi introduzido a partir do norte do continente. A unidade política da região se baseava na suposta unidade mitica oríginária de todos os Yorùbá. Estes constituiriam, assim, uma grande família, dirigida por chefes religiosos e sociais. N a sociedade, cada Yorùbá tinha seu lugar respeitado e sua função definida, sem problemas. Prova disso é que esse modelo de organização social durou séculos. Sem dúvida, os distintos Estados Yorùbá possuíam diferenças em termos de formas de governo. No Estado de Oyo, considerado modelo das estruturas político-militares Yorùbá, o rei- Alafim-governava com poderes semelhantes aos de uma divindade. Era escolhido entre os sucessores por um  conselho de sete sábios-os  Oyo Mesi-, que exerciam a função de ministros. Em Ifè quem mandava era o rei- Oni- assesorado pelos Obá (chefes). Aposição que cada chefe ocupava dependia da suposta data de fundação de sua respectiva comunidade. O Oni representava o ponto mais alto de toda autoridade política e religiosa, por ser descendente direto do Heróí primeiro, Oduduwa, que era , por sua vez, instrumento do ser Supremo. Mesmo tendo vida autônoma, as diversas comunidades tributavam homenagens à supremacia de Oni. Em Benin houve um período de administração republicana e em seguida, uma dinastia de reis oríginários de Ifè. Por volta de 1485-86, sob o reinado de Oba Ozolua, chegou a Benin um português, Alfonso de Aveiro, o qual, ao retornar a Lisboa, levou consigo um embaixador de Oba. Tiveram ìnício, assim, relações comerciais estáveis entre os dois países. Sendo a cultura Yorùbá típicamente urbana, a organização do Estado repousa sobre as cidades. A casa Yorùbá possui planta retangular, com uma entrada simples que dá acesso a um pátio interior, ao redor do qual há várias habitações. Os pátios cobertos sustentam-se sobre pilares, geralmente decorados. Nas casas dos chefes e nos palácios, os pilares são esculturas de figuras humanas. As mulheres , com lenços muito vistosos. Os homens, com gorros típicos. A vida social é um dever do qual ninguém imagina ser possível escapar. Famosos por seu grande tino para negócios, os Yorùbá são mercadores natos, que compram e vendem de tudo. Moram na cidade, mas voltam sem problemas a seus férteis campos na época do trabalho agrícola. A decadência da civilização Yorùbá teve ìnício no final do século 17 e começo do 18, com guerras fraticidas, a chegada dos europeus, o tráfico de escravos e a pressão exercida pelo povo peul. De religião muçulmana, os peul acabaram com a prosperidade agrícola e comercial da região. Em 1897, os soldados britânicos arrasaram a cidade de Benin e se apoderaram das melhores obras de arte. Tendo sido arrancados de sua terra para trabalhar como escravos no Novo Mundo, os Yorùbá trouxeram consigo toda a enorme riqueza de sua cultura. Foi assim que legaram como herança a este continente a música afro-americana, o blues dos Estados Unidos e o carnaval do Brasil. As grandes culturas africanas não são plantas frágeis, que morrem ao serem tocadas. Podem, pelo contrário, adaptar-se e absorver novas influências.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Uma lenda de Igbadu (a cabaça da existência)

.......devo lembrar-te de que, se hoje és detentor do poder sobre os 16 Odu Meji, deves a mim este privilégio, ou por acaso te esquecestes da forma como adquiriste este poder? perguntou Exú.

Mais calmo, aceitando a meia cabaça com água que lhe estendia seu interlocutor., Orumilá acomodou-se sobre uma esteira estendida no chão e se pôs a lembrar daquilo que Exú estava agora se referindo.

.......Desde muito jovem, Orumilá ansiava pelo saber, e foi informado de que, para obtê-lo, deveria conquistar os favores de uma musa chamada Sabedoria, que se encontrava encarcerada em algum lugar na imensidão do Orun.

..... partiu sozinho, numa aventura cujas conseqüências não podia avaliar. De concreto, sabia apenas que muitos outros já haviam partido com a mesma intenção e que jamais haviam retornado.

....Depois de já haver caminhado muitos dias..........encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida.

Metendo a mão em seu embornal, dele retirou um pouco de farinha de inhame....e, de uma pequena cabaça que levava na cintura, um pouco de dendê, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo, ele mesmo, uma pequena parte do alimento.

Depois de alimentar-se, o mendigo, sem revelar seu nome, ofereceu ao jovem, em sinal de agradecimento, o bastão de marim entalhado,

dizendo - Bem sei o motivo pelo qual penetraste nesta floresta.. Segue somente tua intuição, deixa-te guiar pela vontade vencer e, em breve, irás deparar-te com uma enorme construção de pedra na qual entrarás com muita facilidade. Os perigos com os quais irás te defrontar estão em seu interior, portanto preste a atenção no que agora vou te dizer.

Com este bastão de marfim, denominado Irofá deverás bater em cada uma das portas dos 16 quartos...pois só assim elas se abrirão.

do interior de cada porta ouviras uma voz que te perguntará: "Quem bate?" e tu te identificaras dizendo que és Ifá, O Senhor do Irofa. A voz perguntará então o que estás procurando,e tu dirás, estando diante da porta do 1 quarto, que desejas conhecer a vida e que queres conquistá-la em nome de EJIOGBE. A porta então se abrirá e conhecerás os misterios da vida que pertencem a Ejiogbe o 1 dos 16 Odus de Ifá.

No segundo....depois de haveres te identificado como da forma anterior, dirás que desejas conhecer IKU, a Morte e que desejas dominá-lo. A porta se abrirá e conhecerás a morte, seus horrores e mistérios, que pertencem a Oyeku Meji , o 2 Odu de Ifá. Se não demonstrares medo em sua presença haverás de adquirir domínio absoluto sobre ele ....

...Na terceira porta encontrarás um guardião denominado Iwori Meji, que depois de reverenciado, te colocará diante dos olhos os mistérios da vida espiritual e dos nove Oruns, onde habitam deuses, demonios e todas as classes de espíritos que irás conhecer de forma íntima, descobrindo seus gostos e maneira correta de apaziguá-los.

Na quarta porta, reclamarás por conhecer o jugo da matéria sobre o espírito, e o guardião desta porta , ODI MEJI, a quem deverás mostrar respeito sem submissão, te ensinará tudo o que for concernete a questão, è necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e pelos prazeres que se descortinarão diante dos teus olhos, pois podem escravizar-te para sempre, interrompendo a tua busca. Lembra-te ainda que a matéria que sequer foi criada, dominará o universo.

Já na quinta porta, quando fores indagado, dirás que procuras pelo domínio do homem pelos seus semelhantes, pelo uso da força e da violência, da tortura, do derramamento de sangue. Aprende tudo que Irosun Meji, ... tem para te ensinar. Mas não utilizes as técnicas ali reveladas, para não te tornares, tu mesmo, vítima delas. Aí tomarás conhecimento dos planos de Olórun em relação à criação de um ser dotado de corpo material.

Na sexta porta ....um gigante do sexo feminino, que saudarás pelo nome de Oworin Meji, e a quem solicitará ensinamentos relativos ao equilíbrio que deve existir no Universo, e então compreenderás o valor da vida e a necessidade da morte. O mistério que envolve a existência das montanhas e das rochas. Ali serás tentado pela possibilidade de obter muita riqueza, mulheres, filhos e bens inenarráveis. Resiste a essas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxúria.

......diante da sétima porta. O habitante deste quarto chama-se OBARA MEJI, é velho e de aparência bonachona. Poderá te ensinar prodígios de cura e soluções para seus problemas mais intricados. Dará a ti a possibilidade de realizar todos os anseios e os desejos de realizações humanas.Toma cuidado, no entanto, pois os domínios destes conhecimentos pode conduzir-te à prática da mentira, à falta de escrúpulos e à loucura total.

No oitavo aposento deverás solicitar permissão a OKARAN MEJI para conheceres o poder da fala Humana, que infelizmente será sempre muito mais usada na prática do mal do que do bem. Este guardião te falarás em muitas línguas e de sua boca só ouviras queixas e lamentações. Aprende depressa e foge deste local, onde impera a falsidade e a traição.

Diante da nona...guardião Ogundá Meji, para conheceres a corrupção e a decadência, que podem levar o ser humano aos mais baixos níveis de existência. Naquele quarto, conhecerás todos os vícios que assolarão a humanidade e que a escravizarão em correntes inquebrantáveis.Verás o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a covardia e a miséria humana, brincando de mãos dadas, com muitos infelizes que se tornaram seus servidores.

No décimo aposento, deverás apresentar reverências a uma poderosa feiticeira, cujo nome é Osá Meji. Ela vai ensinar-te o poder que a mulher exerce sobre o homem e o por que deste poder. Conhecerás seres portentosos que funcionam na prática do mal. Todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços maléficos que, caso aceites, farão de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da Terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influência da Lua sobre os seres vivos.Cuida para que estes conhecimentos não te transforme num bruxo maldito.

.... na 11a. porta... seu guardião Iká Meji, o gigante em forma de serpente,te fará estremecer. Saúda-o respeitosamente e solicita dele permissão para descortinar o mistério que envolve a reencarnação, o domínio sobre os espíritos Abiku, que nascerão para morrer imediatamente. Aprende a dominar estes espíritos e, dessa forma, poderás livrar muitas famílias do luto e da dor.

A 12a. ..... Seu guardião se chama Oturukpon Meji, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne. ....... poderá revelar-te todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas impensáveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana, e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros.

...13a. Bate com cuidado e muito respeito. Neste aposento reside um gigante que costuma comunicar-se........, com a Deusa da criação do mundo. Aprende agora como é possível separar as coisas. Domina o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Aprende também a utilizar a força mágica que existirá nos sons da fala humana, mas usa está força terrível com muita sabedoria. Este gigante chama-se Otura Meji.

...14a. porta, irás defrontar-se com Irete Meji, que nada mais que Ilê, a Terra.Faz com que te revele os seus mais íntimos segredos. Agrada-o, presta-lhe permanentemente reverência e sacrifício. Contata, por seu intermédio, os Espíritos da Terra, e transforma-os em teus aliados. Conhece os segredos de Sakpata, o Vodu da peste que mata e cura da forma que melhor lhe aprouver. Aprende com ele o poder da cura, já que matar é tão mais fácil.

Na 15a. serás recepcionado por Ose Meji, que irá falar-te de degeneração, decomposição, putrefação, doenças e perdas. Aprende a sanar estes males e sai dali o mais depressa possível, para não seres também vitimado por tanta negatividade, que foi gerada em uma relação incestuosa.

Finalmente, a 16a. porta..... Aí reside Ofun Meji, o mais velho e terrível dos 16 gênios guardiões. saúda com terror gritando Hêpa Baba! Só assim poderás aplacar sua ira. Contempla-o com respeito, mas não o encares de frente. Observa que ele não é um gênio como os que conhecestes nas 15 portas que precediam esta. Este é Ofun Meji, aquele gerou os demais, que nele habitam e que dele se dissociam apenas de forma ilusória. Conhece-lo é conhecer todo o segredo do Universo. è isto que buscava Oh! Orumilá. Domina-o e resgata para ti a bela donzela chamada Sabedoria.



Do Livro Igbadu, A Cabaça da Existência, de Adilson de Oxalá

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

INICIAÇÃO EM IFÁ

A iniciação em Ifá é determinada pelo Babalawo.

Existem duas formas de iniciação:

(1) Iniciação Comum = “OMO IFA

(2) Iniciação para sacerdote = “AWO IFA

INICIAÇÃO COMUM - é geralmente para a pessoa que não vai tornar-se sacerdote de Ifá, mas precisa de Ifá para mostrar o caminho em sua vida e poderá ser do sexo masculino ou feminino existindo nenhuma discriminação.

A iniciação para Orunmila é feita durante o tempo mínimo de 3(três) podendo chegar a até 17 (dezessete) dias, sendo que no terceiro dia (ITA-FA), Orunmila Ifa revela qual o odu da pessoa, que passará a ser um(a) Omo Ifa, e é através deste odu que o babalawo poderá determinar os etutus que esse(a) Omo Ifa, deverá receber além do Oruko (nome) que esta passará a ser chamada.

Obs. A este tipo de iniciação podem submeter-se todas as pessoas, pois tanto umbandistas, candomblecistas quanto cristãos e muçulmanos, dirigem-se ao Ile Ifa para pedir a iniciação. Estes são iniciados, contudo sem abandonar suas antigas práticas religiosas. Ifa não é preconceituoso e abrange outros grupos sociais, sem desestruturar as suas respectivas linhagens iniciais.

Igbo Odu e Igbo Ifa

Igbo Odu (Floresta do Odu)

O ritual de Igbo Odu (Floresta de Odu) é um importante ritual que a pessoa iniciada em Ifa deverá passar. A pessoa deverá faze-lo para pedir a Odu tudo de bom na vida dela



ASSENTAMENTO DE IFÁ

Esta pessoa tem acesso a Ifa depois da iniciação através do “Awo Ifá”, ele receberá o Agere Ifá que é o assentamento do Ifa e as orientações a respeito dos Oses que poderão ser semanal, mensal ou anual de acordo ao Odu da pessoa.



Esu Ifa - Ao iniciar, a pessoa recebe também o assentamento de Esu Ifa e é necessário se ter assentado porque Esu é a única entidade (Orisa) que pode ajudar ou prejudicar a pessoa, até o próprio Ifa é alinhado com ele.

Depois da iniciação, a pessoa é responsável pelos seus assentamentos individuais e ela poderá cultuá-los sob as orientações do Babalawo.

INICIAÇÃO PARA O SACERDÓCIO

AWO IFA

Para esta iniciação, de qualquer forma, é necessário que se tenha passado primeiro por uma iniciação em Ifa, para que se saiba o caminho da pessoa. Através do odu que sair no ITA (terceiro dia do Ifá) é que se saberá se o (a) Omo Ifa será um sacerdote ou uma sacerdotisa e se assim o for o Babalawo irá orientá-lo(a) no caminho de Ifa, preparando-o(a) para o sacerdócio.

IPINUDU: é a obrigação feita para Omo Ifa se tornar Awo Ifa, sendo permitido somente aos homens esta obrigação.

IPINNUDUN AWOLORISA: é a obrigação feita somente por mulheres, Omo Ifa, que serão futuramente Iyalorisa, isso quer dizer que ela vai ter o seu Ile Ifa e somente através do odu que sair para ela, é possível se determinar o Orisa que ela vai ser iniciada. Constatado o nome do Orisa, é que se pode dar o nome de sua casa.

Por exemplo:

Se o odu dela é ligado a Osun, ela vai ser iniciada na Osun e a casa dela poderá se chamar Ile Olosun.Obs: Ela pode por determinação ou regra da sua casa mandar o filho ou a filha passar ou não por Ifá antes do Orisa.

Em nossa tradição não se inicia a outros Orisás sem passar pela iniciação de Orunmila Ifa. Assim, os Olorisas que possuem tal caminho no culto dos Orisas, devem sempre, antes de iniciar seus Eleguns, Yaos, Oyes, Alayan, passá-los pela iniciação do Ifá para poderem obter o Odu individual deste adepto e através do Babalawo serem orientados sobre qual o melhor caminho da iniciação do(s) filho(s).

CUMPRIMENTO NO ILÈ IFÁ

Quando uma pessoa se torna Babalawo, significa que Ifá está bem próximo a ele e é ele quem enfrenta qualquer negatividade que uma pessoa ou “Omo Ifa” venha carregar, por isto, ele merece um grande respeito e não pode ser chamado pelo nome. A partir do momento que ele é preparado para brigar por sua liberdade, ele torna-se seu pai e deve ser chamado de Baba, abreviação de Babalawo (pai do segredo).

Obs.: Ele não pode ser chamado pelo nome.

Cumprimento no dia a dia:

Baba, Aboru boye

Tradução:

Baba, saudação

Resposta do Baba:

A boye bosise A gbo a to

Tradução:

Tudo de bom pra você, tenha boa saúde e prosperidade.

(Geralmente com a cabeça no chão).

A boru

A boye

A bosise



Fonte: ileifa.com.br

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

XAMANISMO

O termo xamâ vem da Sibéria para designar a arte de promover, equilíbrio, harmonia e saúde psíco-físicas através do extase ou expansâo da consciência, que o xamã adquire após longos períodos de treinamentos e iniciações. O termo xamanismo, também é hoje em dia utilizado para definir determinadas práticas espirituais e ritos religiosos, proto históricos, e primitivos. Estas práticas tem em comum o culto a natureza, e estão divididos em diversas modalidades tais como: xamanismo dos aborígenes ( ìndios ) siberìanos, xamãs de tribos indígenas de toda as américa. Os adeptos do Druidismo, da filosofia Wicca e dos cultos a grande mãe natureza. Estas civilizações que povoaram toda a Europa, tiveram seu primeiro apogeu em torno de 9000 anos antes da era cristã. Ainda temos as práticas dos povos Aborígenes da India, como o povo Drávida ou Tantrico que tiveram seu apogeu, em torno de 100000 anos antes da era cristã. Dentre muitos outros povos abórigenes da antiguidade, as mais antigas obras de arte datam de 35000 a 10000 anos antes da era cristã. Estas imagens representam figuras humanas de mães, e foram chamadas de Vênus pelos arqueólogos, esculpidas em osso, marfim e pedra ou moldadas em barro, foram encontradas por toda a Europa e Africa. Estas pequenas estatuetas com grandes ventres, seios repletos e volumosos, coxas grossas, eram representações de Deuzas Mãe, a velha religião assim como é chamada o culto de origem matriarcal, que antecede os cultos patriarcais. Também era uma religiaõ de extase, e estas Deuzas eram chamadas por vários nomes; na India temos a Deuza Drávica, Kali. O povo fon de Daomé reverenciava Nana Buruku, a grande mãe que criou o mundo, o culto dos orísas que ficou muito conhecido no Brasil, também é uma prática de xamanismo.

No culto dos Orìsás, possui um sistema complexo de hierárquia e modalidades tais como: cultos de Òrúnmilá Ìfá- Ìlé de Òrúnmilá Ìfá, Ìlé asé Òrìsás, camdomblés de jeje, ketu, nagô, angola, Ìlé Egun- casa dos ancestrais. As práticas xamanicas tem como base a utilização das forças da natureza. O culto de Òrúnmilá-Ìfá e dos Òrísas também tem o objetivo de cultuar e utilizar estas forças; fogo; terra; ar e agua. Para isso o Ologun (omo ifá), na primeira iniciação do culto  à Ìfá, passa por um longo período de treinamento e estudos. todas as práticas xamânicas, são necessárias diversas iniciações, aonde o aspirante passa por um rito de morte e renascimento, morre para renascer renovado, tem uma experiência de renascimento, de transformação de seu interior, do seu Eu, redescobrindo a si mesmo, através do estado de êxtase ou estado alterado de consciência, que os ritos podem proporcionar. "ÀIYE ATÍ ÌKÚ ÔKAN NAA NI " "VIDA E MORTE; AMBAS SÃO IDÊNTICAS" . Em nosso país hoje em dia, as pessoas não podem nem ouvir falar do culto aos Òrísas, em virtude do culto ter virado um comércio para muitos que se dizem zeladores de Orísas, principalmente nos camdomblés, não generalizando, utilizarem seus conhecimentos de forma errônea, para prejudicar e auto se promover, operando muitas vezes desastres na vida das pessoas. Na maioria das vezes estes sacerdotes não conhecem a fundo a ètica, moral, a filosofia e a religião yorúba, as vezes aprendem errado com seus zeladores, não sabem verificar qual o Odu ( destino pessoal), Orísa e prescrevem ebós( trabalhos mágicos) errados, desequilibrando psìquicamente, espiritualmente, atrapalhando ainda mais a prosperidade, equilibrio, felicidade das pessoas que estes sacerdotes atendem. Assim como no cotidiano, existem maus profissionais;  maus médicos; maus professores; maus advogados; maus padres ; maus motoristas; maus políticos, infelizmente. No entanto , também existe pessoas, que são profissionais exemplares e de carater incontestáveis , por isto o julgamento não é o único caminho, e sim a informação, a pesquiza, a busca pelo conhecimento e o entendimento do culto e suas origens. O culto, trás sua ética, como por exemplo: a tarefa de ser um omo awo (filho do segredo ), é uma tarefa muito díficil e patrulhada por severas regras de conduta, que deveriam servir de base técnica e moral para sua ação, tipo: o awoni não pode procurar a mulher do outro, muito menos a sua ajudante ritual.   o awo não pode práticar àjé, feitiço contra outro awo, contra inocentes, e nem conspirar contra seus irmãos. o awo não deve abandonar outro awo, que esteja em dificuldades, sem tomar providencias para que tudo fique em ordem com o irmão. o awo não pode falar mal do outro, mesmo que este seja merecedor, o awo não pode divulgar o teor de discussões travadas em seus encontros formais na confraria, sociedade secreta, mesmo que se trate de punição contra culpados ou desagravo de inocentes, e muitas outras. Praticam a lei da natureza, do respeito, moral e da caridade.

 "OYE TI O BA WU ENI NI TÁ IFÁ ENI PÁ".  "QUALQUER QUE SEJA A SOMA QUE AGRADE ALGUEM, É AQUELA PELO QUAL RECEBEMOS PARA JOGAR IFÁ".  Só por este trecho saberemos distinguir a boa-cumba da mal-cumba.         O omo ifá (filhos de Orúnmilá-ifá ) passam pelos seguintes aprendizados:  Gênizes yorúbá; advinhação sagrada de ifá; eridilogun; opele-ifá; ewé- folhas sagradas e medicinais dos orìsá e odu; ógun, medicina natural, mágica e psícossomaticas; èsé itán, versos dos contos de ifá; oríkis - orações e rezas; odu - signos ou reinos, energias que estão relacionadas com o nosso destino pessoal, o nosso karma; ebó-adimu - oferendas sem sacríficio animal e outros; ewo - proibições ou quizilas e as razões de sua existência; culto a natureza: àgua, rios, riachos, o mar, arvores, vento e ao tempo; ojubó- ibá orisá, assentamentos e lugares sagrados. Enfim percebe-se que o culto desde a sua origem, é bem diferente do sistema afro brasileiro, o qual sofreu muitas modificações, alterações e vários sincretismo, excluindo é claro as casas de ile aséO RÍSAS QUE MANTÉM AS TRADIÇÕES PRIMITIVAS VIVAS, estas casas são chamadas no meio como : CASAS DE TRADIÇÃO DE ORISÁS. Por isto é importante que todos nós estejamos sempre, buscando, pesquizando , mais e mais sobre a cultura tradicional yoruba, para acrescentarmos ao nosso conhecimento, assim podendo  adquirirmos mais àsé , no nosso dia a dia e de encontro com a natureza. IRE ASÉ OOOO            ( este texto é soma de varios textos, fruto de minhas pesquizas)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Origem do jogo de búzios

Para podermos entender o porque do jogo de búzios devemos retornar ao passado e conhecer um pouco do verdadeiro oráculo de ìfá, pois é neste oráculo que o jogo de búzios, tem sua origem. De acordo com a tradição, Orúnmilá é a divindade do oráculo de Ìfá. Nos contam as lendas, que Òrúnmilá veio ao mundo, enviado por ELEDUNMARE( Deus supremo), para acompanhar e aconselhar ÒRÌSÀ'NLÁ (conhecido no Brasil como Oxalá ) na organização da terra. Enquanto Òrìsà'nlá representava os atributos de Eledunmare na terra, nas funções ligadas a criação; Òrúnmilá é seu representante nos assuntos pertinentes a consciência e sabedoria. Pôr isso o nome ÒRÚNMILÁ, ser uma contração de ÒRÚ-I-O-MO--A-TI-LA, o que significa aproximadamente: "Somente ele que está em todas as dimensões e planos, pode nos orientar". Uma de suas invocações é OKITIBIRI , A-PA-JO-IKU-DA, 'O grande modificador, aquele que altera a data da morte ", seu culto está totalmente ligado a forma de DIVINAÇÃO conhecida como  Ìfá, que significa aproximadamente: "Manifestação divina em forma de palavra, na boca do homem original ". Por isso os antigos africanos iorubás, recitarem: ÌFÁ TI JU MÓ MI O WO MI RE / BI O BÁ TI PE MO MI LA I ORO I OWO / BI O BÁ TI PE MO MI LA RI RE.  tradução: Ìfá, fixa teus olhos sobre mim e me olhes bem / pois quando tu fixas teus olhos em uma pessoa, ela se torna rica; / pois quando tu fixa teus olhos em uma pessoa, é que ela prospera. Os instrumentos usados no oráculo de ìfá, de onde se originou o jogo de búzios são:1-OPON-ÌFÁ: tabuleiro ritual usado durante a divinação. 2- ÌROFÁ: Bastão de madeira ou marfim, usado para " chamar" ìfá. 3-ÌKÍN: coquinho de dendê, fetiche de Òrúnmilá. São usados em numero de dezesseis. 4YEROSUN: Pó divinátorio usado no opon-ìfá. 5- OPELE-ÌFÁ: dispositivo auxiliar que representa a corrente mística que une o Òrún (espaço) ao Wayè (terra). 6- OLORÍ-ÌKÍN: "Vigia do jogo ", o décimo - sétimo ìkín representando Èsú. 7- AJÈ- ÌFÁ: Anel composto por dezesseis búzios aonde fica " sentado" o olorí-ìkín e vários outros instrumentos. A origem do merindinlogum, vem exatamente do desmenbramento do ajè-ìfá , anel de 16 búzios, aonde fica o olorí -ìkín (vigia do jogo ), simbolizando Èsú. Por isso é que somente Èsú "fala " pelo jogo de búzios, sendo a "fala" de Òrúnmilá exclusiva, através do Oráculo de Ìfá. Ìfá era em sua prática, somente permitido aos homens, sendo o jogo de búzios em sua origem, destinado as mulheres, filhas de Òsún e nascidas no odu ÈJÌOGBÈ MEJI (em Ifé), tornando-se assim, Yapetebí de ìfá, " esposa de ìfá". Este fato se deve, por ser  Òsún, mãe de ÀSÉTÚWÁ, personagem místico, o qual os Odus ÒSÉ E ÒTÚRÁ fizeram nascer; sendo extremamente ligado a Èsú. ( por ser Òséòturá, o único Odu capaz de levar as oferendas até Eledunmare, por intermédio de Èsú.). Está é uma parte resumida, da origem histórica do jogo de búzios, uma forma de oráculo, destinado somente as mulheres dentro da tradição do ìfá. No Brasil por terem sido mulheres as grandes fundadoras do culto aos Orisàs , o jogo de búzios se difundiu indiscriminadamente, sendo tanto homens, como0 mulheres dos mais variados Orisàs, a jogarem búzios. Isto não é errado, somente uma distorção do culto de origem, causada pela forma como o culto aos Orisàs chegou ao Brasil . ATRAVÉS DA ESCRAVIDÃO !