sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ÀSÈSÉ

Uma vez cumprido seu ciclo de vida, cada ser humano se desintegra para restituir-se em parte às massas progenitoras e reforçar o àse das mesmas; Quanto mais a vida de um ser humano terá sido ùtil e profícua para a comunidade, mais seu àse será poderoso. Outra parte de seu àse será reencarnada em seus descendentes diretos. No caso das pessoas "adósù" (iniciadas), dependendo de sua hierarquia, parte de seus componentes representados por seus assentamentos podem permanecer na casa de culto e serem venerados. Para possibilitar essa passagem sem contratempos, ritos mortuários (Ìsìnkú) são celebrados nas casas de culto tradicionais, cujo ciclo ritualístico é conhecido como Àsèsè. Uma outra denominação dada ao rito de Àsèsè é Àjèjè, que significa " a vigília do caçador ". Conta a tradição que Oduleke criou uma menina e que deu o nome de Oyá. Já crescida, se tornou uma mulher inteligente e altiva, conhecendo todos os segredos da caça e artes da magia, quando Oduleke faleceu, Oyá lhe prestou uma última homenagem. Reuniu todos os seus pertences, colocando-os numa grande trouxa e, durante 7 dias, dançou e cantou em homenagem ao pai adotivo. Ao final dos 7 dias, um grande cortejo foi depositar a grande trouxa aos pés de uma árvore sagrada. A este carrego foi dado o nome de Àjèjè e que deu nome também ao ritual. A princípio era praticado apenas pelos caçadores e, com o tempo, se estendeu a todas as pessoas, recebendo o nome de Àsèsè. O ritual de Àsèsè, é dedicado exclusivamente às pessoas iniciadas, os pêsames eram dados com um tabuleiro de àkàràjé (bolinho de feijão-àkàrà+ de bruxa - Àjé), panela com èkuru, abara, àkàsà etc. Estas comidas ficavam em volta do corpo, na sala, e pertenciam ao morto ou morta. Quando chegava um visitante, ele fazia a saudação-"E kú àse" e se servia usando uma folha de mamona passada no fogo onde estavam sendo feita as comidas, e comia. Depois jogava a folha num balaio e ia dançar em volta do corpo para pagar a comida que comera. Porque, geralmente, naquele tempo, a Àsèsè era feito em qualquer casa. Atualmente entretanto, desde que o falecimento de uma pessoa  adósù pertencente a uma casa de culto fosse notificado, procede-se a levantar um pequeno recinto provísório, coberto de folhas de palmeira (Maríwò) junto ao Ìlè Ibo Akù (casa de culto aos mortos). O sacerdote responsável, auxiliado pelo seu segundo em híerarquia, procede ao levantamento ritual dos "assentamentos" indíviduais pertencentes a pessoa falecida assim como todos seus objetos sagrados e tudo é depositado no chão no recinto provísório, distante das casas de culto aos oríxás. As quartinhas que continham água são esvaziadas e emborcadas. Este ritual (o Àsèsè ) dura 7 dias consecutivos. Durante os cinco primeiros dias as mesmas cermônias se repetem exatamente, seguindo a seguinte ordem: Todos os membros da casa de culto, rigorosamente vestidos de branco, reúnem-se no barracão ao pôr-do-sol e voltados para o oeste, celebram o ritual de Ipadè. No inìcio, o espírito da pessoa falecida é invocado juntamente com o oríxá Èsù, Ìyàmi Òsòròngá, Ònílé, Ègùngùn entre outras dívìndades. Todos os membros da comunidade rigorosamente vestidos de branco(pois  esta é verdadeiramente a cor do luto, dentro da concepção religiosa Yorùbá) reúnem-se em volta de uma cabaça vazia que ocupa o centro da sala sobre o ariàsé ( ponto central de àse da comunidade  e que pertence sempre ao Òrixá Onilé "senhora da terra" e a Oduduwá, deixando impreterìvelmente um caminho de saída que leva ao exterior da casa, que se chama Onòn Fifa Èégún Òkùú wo lé (caminho que traz o espírito para a casa). Neste momento, um dos sacerdotes encarregados do ritual que se vai desenrolar no Ilé-akú e no recinto exterior onde foram depositados os "assentamentos" e os objetos da falecida, traz uma vela, colocando-a ao lado da cabaça e a acende. todos os presentes enrolam suas cabeças com oja branco e cobrem cuidadosamente o corpo com um grande pano branco, além de estarem devidamente pintadas em certas partes do corpo com Efún( o barro branco ancestral e principal intermediário de àse dos orixás fun-fun, entre os quais se classificam Ikú eÒrìsà'nlá).No moment em que acende a vela, supõe-se que o espírito da pessoa falecida se encontra na sala representado pela cabaça. Um longo ritual vai se desenrolar começando pela autoridade máxima da comunidade, seguida em ordem hierárquica por cada um dos sacerdotes e sacerdotisas de grau elevado e finalmente por grupos de dois a dois de iniciandos. Cada pessoa saúda o exterior na ponta do Onòn Fífa Èégún Òkùú wo lé, a cabaça, as pessoas presentes e dança em volta da cabaça colocando nove búzios e nove moedas(no caso da pessoa falecida ser do sexo masculino) ou sete se for feminina, tanto estes búzios como as moedas, são passadas previamente por sua cabeça, delegando assim uma saudação de seu àse ao morto. Ao mesmo tempo, despede-se do morto, com cantigas apropiadas. A primeira cantiga entoada pelo sacerdote responsável é uma reverência a todos os Àsèsè que, são os primeiros ancestrais da criação, o começo e a origem do universo, de uma linhagem, de uma família, deum Egbé. A venerável pessoa falecida, devido a seu mérito, tornar-se-á também em Àsèsé (força de origem). texto extraído  de Magia prática no culto a Ìyàmi Òsòròngá e o mito das mulheres pássaros ; autoria:Luiz Carlos Silva.

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