sexta-feira, 30 de julho de 2010

A SOCIEDADE ÀBIKÚ

ÀBÍKÚ ou ELÉ`RÈ são formas de espíritos que vivem de ir e vir ao mundo, formando uma sociedade chamada Egbé Òrun Àbikú, e l`derada por Olóìkó (de natureza masculina) e Ìyájanj`sá (de natureza feminina). Para estas mortes prematuras, oferendas são feitas com a intenção "fechar a porta" de ida e vinda, para que desta forma um espírito desta natureza que esteja encarnado, possa viver plenamente e "ficar com cabelos de algodão". Ao tomar conhecimento de que uma criança é Àbikú, os Yorubás além de uma série de ritualidades específicas, dão também um nome a esta criança para que este nome lhe traga ajuda na luta de sua permanência: Àpààrà - "Não fique indo e voltando", Dúrójaiyé -"fique e goze a vida", Kòkúmó - "não morra mais". As obrigações a serem feitas iniciam-se a partir da consulta ao oráculo de Ìfá e o Bàbá Eégúngún Bejí-Bikú (ligado ao culto de Beji, exatamente por causa dos espíritos infantis Àbìkús, pode ajudar muito na solução do problema), estas consultas visam entre outras coisas a perceber o "ponto fraco" específico daquela pessoa na relação Abikú, pode-se deduzir o que será necessário a ser feito. Assim nos conta um itòn do Odù Òdi Méji :   "...Òrúnmílà foi consultar Ìfá para seu filho Asejéjéjaiyé. Ele causa aborrecimentos a Òrúnmilá porque é a décima Sexta vez que vem ao mundo e morre. É então que o Babáláwo diz que se prepare a folha de Ìdí e tudo que for necessário. Eles dizem que sejam feitas incisões no corpo de Asejéjéaiyé, que façam incisões no rosto também. As incisões são feitas e se esfrega o pó. Quando se acaba de fazer as incisões, eles dizem que esta criança não conhece mais o caminho de volta para o céu da morte; Eles dizem que pegue o resto do pó negro; Eles dizem que se faça um talismã de boa sorte; Eles dizem que amarre na cintura da criança; Eles dizem que ela  não é mais capaz de partir; Eles dizem que o caminho do céu da morte, não foi feito para ela; A criança que esfrega seu corpo com a folha de lará pupa não retorna mais ao céu da morte..."    Se uma mulher, em país Yorúbá, dá à luz uma sèrie de crianças nati-mortas ou mortas em pequena idade, a tradição reza que não se trata da vinda ao mundo de várias crianças diferentes, mas de diversas aparições do mesmo ser maléfico chamado Àbíkú(nascer-morrer) que se julga vir ao mundo por um breve momento para voltar ao país dos mortos, òrún, várias vezes. Ele passa assim seu tempo a ir e voltar do céu para o mundo sem  jamais permanecer aqui por muito tempo, para grande desespero dos pais, desejosos de ter numerosos filhos vivos, para assegurar a continuidade da família sobre a terra. Esta crença se encontra entre os Akan, onde a mãe é chamada Awomawu(ela bota os filhos no mundo para a morte). Os ibo chamam os Àb`kú de Ogbanje, os Hauçás de Danwabi e os Fanti, Kossamah. Sua presença entre os Mossi foi estudada por M.Houis. Encontramos informações a respeito dos Àbìkú em algumas histórias de Ìfá que transmitem de geração em geração um enorme "corpus" de histórias tradicionais, classificadas nos 256 Òdú de Ìfá. Essas histórias mostram que os Àbìkú ou Eméré formam sociedades no céu (egbé-Òrún), presidídas por Iyàjansá (a mãe-que-bate-ecorre) para os meninos e Olókó(chefe de reunião para as meninas, mas é Aláwaiyé(Rei de Awayé) que as levou ao mundo pela primeira vez na sua cidade. Lá se encontra a floresta sagrada dos Àbìkú, aonde os pais vão fazer oferendas para que eles fiquem na terra. Quando eles vem do òrún para a terra, os Àbìkú passam os limites do céu diante do guardião da porta, o aduaneiro do céu Onibodè Òrún(um dos títulos de Ògun). Os que partem declaram o tempo que tencionam ficar no mundo e o que farão. Se prometem a seus companheiros que não ficarão na terra, essas crianças, apesar de todos os esforços de seus pais, retornarão, para encontrar seus amigos no céu. Os Àbìkú podem ficar no mundo por períodos mais ou menos longos. Um Àbìkú menina chamada " a morte os puniu" declara diante de Ònibodè Òrún que nada do que seus pais façam será capaz de retê-la no mundo, nem presentes em dinheiro, nem roupas que lhe ofereçam, nem todas as coisas que eles gostariam de fazer por ela atrairiam os seus olhares nem lhe agradariam. Um Àbìkú menino , chamado Ilere, diz que recusará todo alimento e todas as coisas que lhe queiram dar no mundo. Ele aceitará tudo isto no céu. Quando Aláwayé levou duzentos e oitenta Àbìkú ao mundo pela primeira vez, cada um deles tinha declarado, ao passar a barreira do céu, o tempo que iria ficar no mundo. Um deles se propunha a voltar ao céu assim que tivesse visto sua mãe; um outro, que iria esperar até o dia em que seus pais decidissem que ele deveria se casar, um outro, que retornaria ao céu, quando seus pais concebessem um novo filho, um ainda não esperaria mais do que o dia em que começasse a andar. Outros prometem a Iyàjanjansá, que está chefiando a sua sociedade no céu, respectivamente, ficar no mundo sete dias, ou até o momento em que começasse a andar, ou quando ele começasse a se arrastar pelo chão, ou quando começasse a ter dentes , ou ficar em pé. Essas histórias de Ìfá nos dizem que oferendas feitas com conheimento de caus são capazes de reter no mundo esses Àbìkú e de lhes fazer esquecer suas promessas de volta, rompendo assim o ciclo de suas ídas e vindas constantes entre o céu e a terra, porque, uma vez que o tempo marcad para a volta já tenha pasado, seus companheiros se arriscam a perder o poder sobre eles. Estas oferendas capazes de reterem os Àbìkú na terra são todas profundamente baseadas nas plantas litúrgicas que "conhecem o segredo Àbìkú", e assim podem como que omper o pacto dos Àbìkú.                   Estas plantas litúrgicas são:  Abírinkolo=cascaveleira,xique-xique,maracá.      Agídimagbayin= vassourinha do campo. Idi = amendoeira. Ijá osun = urukun  Lara pupa = mamona vermelha. Olobonjè = pinhão da bahia Opa emere = dobradinha do campo, malva sedosa. A ação protetora buscada nas folhas , expressa nas fórmulas de encantamento, é introduzida no corpo da criança por incisões e fricções e a parte do pó preto, contida no saquinho Òndè, representa uma mensagem não verbal, uma espécie de apoio material e permanente da mensagem dirigida pelos elementos protetores contra elementos hostis, sendo esta forma de expressão menos efêmera do que a palavra. Assim como nestas histórias, são feitas referências aos Xaorôs, anéis providos de guizo, usados nos tornozelos pelas crianças Àbìkú, para afastar os companheiros que tentam vir buscá-los no mundo e lembrar-lhes suas promessas. No entanto, nem sempre essas preucações e oferendas são suficientes para reter as  crianças Àbìkú na terra. Iyájanjansa é  muitas vezes mais forte. Ela pode não deixar agir o que as pessoas fazem para reter os Àbìkú. Os corpos dos Àbìkú que morrem assim, são frequentemente mutilados, a fim de que , dizem, eles percam seus atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar com eles sobretudo para que o espírito do Àbìkú, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo. Estas crianças recebem no seu nascimento, nomes particulares. Citarei alguns : Aiy´lagbe -"nós ficamos no mundo", Aiyédùn- "a vida é doce, venha conhecer nossa sociedade", Ajéigbe -"a riqueza não está perdida" Akísàtán-" eu nã verei mais amarrar as roupas" Dúrósomo- "fica, para fazer filhos" e muitos outros.    

Fonte : magia prática  no culto à Ìyami Òsòròngá.