sexta-feira, 29 de outubro de 2010

COMO ÈSÚ GANHOU A PRIMAZIA SOBRE OS ÒRÌSÁS

"... Esta é a história do modo como Èsú tomou a primazia das mãos de todos os Òrìsás e Eboras que até então eram seus mais velhos. Quando Èsú tentava apoderar-se do comando, foi consultar Ìfá para saber como este pensamento poderia se tornar realidade. Ele foi consultar o oráculo dos seguintes Babaláwòs: "Bater-se desesperadamente não faz a ancianidade, a quem Olóòrún cria como senhor é aquele que chamamos de pai na terra" e "Bater-se desesperadamente não faz a ancianidade, a quem Olóòrún cria como senhor é aquele que chamamos de pai nos espaços do Òrún". Todos eles jogaram Ìfá para Èsú Odara, no dia em que ele foi procurar se tornar o mais importante sobre os dezesseis Irúnmàlé do mundo. Disseram, voçê Èsú, disseram, voçê deve oferecer um sacríficio, disseram, o sacríficio que voçê fará, disseram,  seria afim de que aquilo que voçê pensa, venha a ser verdade. Èsú perguntou o que deveria oferecer em sacríficio, Eles Disseram: três penas de papagaio vermelho, ikodé, três galos de crista bem madura. Disseram que deveria adicionar quinze centavos e azeite de dendê e fazer uma oferenda de palmas recém-brotadas, mariwò. Èsú fez a oferenda à todos os Babaláwòs. Depois que fez a oferenda, eles decidiram lhe dar uma pena de papagaio vermelho, ikodé. Disseram para leva-lá sobre ele mesmo o tempo todo. Disseram para não se servir de sua cabeça para transportar nenhum carrego, disseram não antes de três meses. Então Èsú se preparou: apanhou sua única pena de papagaio vermelho e a colocou na cabeça. Quando Èsú estava para partir, Eledunmare teve um pensamento a partir da mensagem transmitida pela oferenda. Eledunmare teve então essa ìdéia: gostaria de conhecer aquele que estivesse dando o melhor de si, zelando pelo bom andamento do mundo, entre todos os Òrisá e os Ebora que ele tinha criado. Ele disse então que todos deveriam vir a fim de lhes perguntar até que ponto estavam administrando os assuntos da terra. Quando ele lhes pediu que viessem, cada um preparou as coisas com as quais adoraria Eledunmare. Eles as arrumaram em pequenos carregos. Quando arrumaram todos esses carregos, todos se reuniram, Òrisà'nlá e Olookun e Ògún, Osóòsi e Obalufon, Òrunmilá e Òrisáoko e todos os outros. Todos eles incluindo Òsún, estavam se preparando para ficarem prontos para partir em direção aos espaços abertos de Òrún. Partiram para a viagem...    Em fila, "um atrás do outro".  Quando Èsú se pôs a caminho, se perguntou. se se forçasse a carregar qualquer coisa agora, bem, será que a oferenda que acabava de ser feita pára ele, bem, será que tudo não ficaria inutilizado? Para isso, se lhe fizessem perguntas, saberia o que dizer: Que era uma propiação que tinha sido feito para ele e que não podia levar carregos naquele momento. Depois Èsú apanhou sua pena de papagaio vermelho, ikodé e a colocou na cabeça. Ele não colocou nenhum gorro. Todos os Òrisá, os que tinham colocado um gorro, os que tinham colocado coroas, os que tinham colocado chapéus, os que também levavam carregos, os que também levavam seus embrulhos na mão, mas Èsú não levava nada e não colocou gorro, nem carregava pacote; assim iam todos eles. Quando alcançaram os espaços de Eledunmare, foram e colocaram-se em sua direção; quando estavam assim, foi ele própio que lhes apareceu. Depois que Eledunmare os fitou por um bom espaço de tempo, não lhes fez nenhuma pergunta sobre a maneira como se tinham conduzido na terra, porque Eledunmare  é Olúmonokòn ( aquele que conhece os corações ). Fitando-os assim, disse, todos voçês que estão lá em pé, e disse, a pessoa que carregou ikodé em sua cabeça. Disse, que deveriam fazê-lo aproximar-se. Assim ele veio. Ele disse, voçê que veio revelar isto: voçê é aquele que reuniu todos os habitantes da terra e esteve fazendo mais trabalhos para eles, disse, voçê é aquele que os conduziu até aqui. Èsú não disse nada. "que isto se cumpra", disse Èsú. Nesse dia Eledunmare disse a todos, numa resposta pronunciada num tom sem réplica: " quando voçês chegarem aos seus lugares de morada, para onde retornarão, tudo o que devem fazer, aquele que foi seu líder, que carregou o emblema Egán em sua cabeça, é a quem voçês devem procurar e falar. Ele deverá trazer-me todas as sugestões de voçês, porque hoje voçês mostraram que aquele que os guiou para que pudessem submeter-me suas sugestões, antes de as pôr em execução, é ele. E por isso ele viu Egán em sua cabeça. E ninguém discutiu. Eis como Èsú veio a conduzi-los todos de volta à terra nesse particular momento. A canção que eles cantaram nesse dia, no caminho de volta, dizia: "Èsú não levou carrego de homenagem e submissão, Èsú não levou carrego de homenagem e submissão; ( porque ) Egán vermelho erguia-se destacando-se em sua cabeça; Èsú não podia levar carrego de homenagem e submissão." Assim retornou a terra; quando chegou a terra, ele disse então que daria uma festa comemorativa porque Eledunmare lhe tinha dado poder e status conhecido de todos os Òrisás; aqueles que ignorassem a autoridade de Èsú, Èsú faria com eles como a corda dobra o arco e como Àrìnàkò se abate sobre o caracol. E Èsú festejou o alegre acontecimento entre os quatrocentos Irúnmàlè, do lado direito e os duzentos màlè do lado esquerdo. Por esta razão, todos os Òrisá começaram a imitar seu costume colocando pena ikodé como emblema de Àsé durante seus ritos de celebração anual ou como emblema de sacríficio propíciatório cada vez que eram realizados. É por isso que a pena ikodé, se tornou um preceito tradicional para todos eles. Essa pena de papagaio vermelho, Èsú foi o primeiro a leva-la aos vastos espaços de Òrún de acordo com que ele havia escutado dos Babaláwòs que tinham consultado o oráculo de Ìfá para ele, sobre a maneira como apossar-se do senhorio. É por isso que essa pena de papagaio vermelho foi chamada de Egán. Cada vez que se quer iniciar alguém no culto de Ìfá até hoje, coloca-se esse Egán na cabeça desta pessoa, que passára a ser Elegán ( o senhor do Egán ), onde for iniciado, e ela não deve colocar carrego sobre sua cabeça durante sete dias, depois dos quais ela pode retirar esse Egán. Este é o Àsé de Èsú cujo poder lhe foi dado por Eledunmare, quando ele se serviu disso para conquistar o senhor sobre todos os Òrisás. Nenhuma pessoa deve colocar esta pena para brincar; até hoje, se alguém o coloca em sua cabeça por brincadeira, e permanece por algum tempo, essa pessoa provoca a cólera de Èsú. Salvo quando esta pessoa se serviu disso quando de uma oferenda dirígida aos  irúnmàlè ou aos Òrisá. Essa pena foi utilizada por Èsú para tomar a soberania das mãos de todos os Òrisás naquele tempo. Ele começou a elogiar os sacerdotes de Ìfá. Ele lhes agradecia sinceramente, "Bater-se desesperadamente não faz a ancianidade; a que Olórun cria como um Senhor é aquele a quem chamamos pai na terra". e "Aquele a quem Olórun cria como senhor, é aquele que chamamos pai no Òrún ". Esses foram os sacerdotes que consultaram Ìfá para Èsú Òdàrà quando ele queria tomar o senhorio das mãos dos dezesseís Irúnmàlè. Esú Òdàrà é aquele, quando voçês se levantam, ao qual é preciso fazer apelo para que ele lhes providencie o alimento. Èsú Òdàrà! É ele o qual quando nos levantamos , precisamos fazer apelo para que ele nos providencie à todas as nossas necessidades. Èsú Òdarà é aquele que guiou todos os Irúnmàlè de retorno a terra. Eis como Èsú ganhou a soberania daquele tempo até agora. Não existe ninguém que coma ou esteja instalado com realeza, sem que haja recorrido a Èsú primeiro. Então as pessoas disseram: demos a Èsú o que lhe é de direito para não causar seu descontentamento de maneira a que o que desejamos fazer chegue ao bom termo. Então Èsú tornou-se o Asíwájú; aquele que vai na frente de todas as pessoas na terra, pela segunda vez. È assim que Òséòtùrá conta essa história sobre Èsú...." .  "Mojubá Elegbara, Elegbá Ago, Baralayìkì, Èsú Òdàrà. Mojubá Èsú Lonã, moren'la; kosì ikú; kosì arun; kosì ofo; kosì aráyé; fun mi : ìre owo, ìre omo, ìre omã, ìre arìkú Babá wa.          Trad; Saúdo à Elegbara, peço a sua permissão; Elegba Baralayikí Èsú o bom; Saúdo Èsú dos caminhos, meu grande amigo, permita que não haja more, que não haja doença, que não haja perdas, que não haja problemas terrenos. conceda me bençãos de dinheiro, filhos, inteligência, saúde e bem estar.  Àsééé oo....

domingo, 24 de outubro de 2010

OGUN

Dentro do segundo dia da criação, surgem os elementos naturais na criação cósmica, Ògún é o patrono deste dia por ser aquele que é " O Rei na casa e na forja ". A idéia da metalurgia em sentido filosófico dentro do Ìfá, nos diz da capacidade de unir as peças em atrito e desta união, conseguir um novo elemento. A descoberta do ferro na Africa foi uma revolução ímpar, desde a invenção da Olaria no período Neolítico Africano, há aproximadamente 6.500 anos, até o período Gerziano (4.000 anos ) aonde além da utilização do ouro e da prata, começa enfim, a do ferro e do chumbo, "o segredo da forja " foi concentrado em clâs de ferreiros, que detentores da nova técnica, se impunham sobre povos menos avançados. Sua origem parece estar ligada a cidade de Meróe, capital da Núbia, aonde descobriram-se montes seculares de escórias de ferro acumulados no decorrer de uma atividade metalúrgica dos séculos VII- VI antes de Cristo, período em que o bronze era tão raro que os prisioneiros da Etiópia eram acorrentados com correntes de ouro. Considerado o Rei dos metais, por suas características específicas, o ferro proporcionou utensílios que triplicaram as possibilidades de caça e de cultura, permitindo a chance de explorações mais intensas em novas regiões, normalmente pesadas e abundantes em florestas. Neste aspecto, o ferro símboliza, o progresso da produtividade do trabalho agrário, dinamizando um crescimento da população e por consequência, de povoamentos. Nestas regiões, uma nova organização de relações sociais, vem a formar sociedades complexas e hierarquizadas, cujas as bases centrais, seriam as armas e os utensílios de ferro, daí a importância das castas de ferreiros, detentores da tecnologia do ferro, portanto, geradores de poderio militar e desenvolvimento social; compreendendo-se assim, o porque de várias tradições Africanas, falarem de antepassados que eram Reis-Ferreiros, monopolizadores, pelo menos, no começo, da preciosa técnica, o " O SEGREDO DA FORJA " ( AWOGÚN), esta técnica quando analizada filosóficamente pelo Ìfá, nos da a compreensão da atuação dos elementos no mundo e no ser humano. Sendo assim, é exatamente pelo segredo da forja, que Ògún se torna o patrono do segundo dia da criação, o Òjó Ògún; Ògún é o Deus do ferro e de tudo o que ele representa, originariamente associado ao ofício de ferreiro e a agricultura; com o advento da escravidão, evidenciou-se, principalmente nas Américas, suas características de imbátivel guerreiro. Filho mais velho de Oduduwa, o fundador de Ilè Ifé, local reconhecido pelo povo Iorubá como fonte mística do poder e legitimidade. Ògún teria se tornado o regente de Ifé, quando Oduduwá ficou cego. De temperamento violento e enérgico, são inúmeras as lendas sobre suas vitórias e criatividade artezanal sobre a forja. Ao nível mítico-religioso, Ògún teria sido o único Deus sobrevivente dos "duzentos Deuses da direita " os Igbá Imole, destruídos por O lodumare por terem se conduzido mal; Deuses estes, que sem exceção, vestiam-se todos com folhas de Maríwò; Daí ser estas folhas desfiadas, um de seus símbolos. O processo de criação representado por Ìfá, é baseado em um desenvolvimento contínuo, estruturado em princípios fixos. Ao analizarmos o Òjó Ògún, temos que ter em mente o "segredo da forja ", a arte este segredo, foi a sábia manipulação das relações entre os elementos naturais, para a obtenção da liga do ferro na forja. Tanto melhor o utensílio a ser forjado, quanto maior a sabedoria do ferreiro em manipular o minério de ferro (terra), a temperatura ideal na olaria (fogo), que era controlada pelo fole (ar ) e por fim, a água, colocada dentro de um pequeno tanque, aonde era seguidamente apagado o ferro em brasa, até a obtenção da liga ideal. Seria natural então, que sendo esta técnica tão essencial no desenvolvimento humano em Africa, ela ganhasse conotações místicas e mágicas, sendo os clãs e Reis-ferreiros, possuidores dos segredos da transmutação da natureza, portanto da vida. Sendo do segredo do ferro, a origem da busca ao conhecimento dos segredos da natureza e do aperfeiçoamento da alma, utilizando os elementos ar, água, fogo e terra, como símbolos de aspectos comportamentais, morais, etc, sendo o homem, aquele que molda sobre a forja do conhecimento o seu destino. Tanto nestes conceitos filosóficos foram importantes na análisedo homem em relação ao cosmos, que durante os vários séculos que se seguiram após sua descoberta vieram a ser chamados de Alquímia. Sendo fácil a comprenssão que o Rei-ferreiro de 3 mil anos atrás, seja o antepassado técnico e filosófico dos alquimistas do séc. III D.C. ( período Alexandrino ), como químicos de hoje. Ògún, como personagem histórico, teria sido o filho mais velho de Oduduwá, o fundador da cidade de Ìle Ifé. Era um temível guerreiro e grande conquistador, que brigava sem cessar contra reinos vizinhos. Dessas expedições, ele trazia sempre um rico espólio e numerosos escravos. Guerreou contra várias cidades destruindo-as. Saqueou e devastou muitos outros estados e apossou-se da cidade de Ire, matou o Rei e ali instalou seu própio filho no trono e regressou  glorioso, usando ele mesmo o título de Oniire, "Rei de Ire ". Ògún foi o mais enérgico dos filhos de Oduduwá e foi ele que se tornou o rei  de Ìle Ifé, quando Oduduwá ficou cego. Ògún é um só, no entanto associado as sete aldeias, hoje desaparecidas, que existiram em volta de Ire. Por isso o número sete lhe ser associado. Os lugares consagrados a Ògún ficam ao ar livre, na entrada de pálacios dos Reis e nos mercados. Também sempre estar presente nas entradas dos templos de outros orisás. Ògún é provavelmente, o Orisá mais respeitado e temido. Um juramento feito em seu nome, com uma faca entre os dentes, representa um dos mais profundos e sérios votos que alguém pode fazer, independente de ser ou não, um filho deste Orisá. Sua origem relaciona-se aos primeiros Òrisás criados por Eledumare, os quais foram destruídos pelo seu própio criador, todos eles vestiam-se de mariwò e eram altamente violentos e sanguinários, nenhum Iorubá, ousaria invocar o nome de um destes Òrisás, tamanha é a força negativa e altamente destrutiva que a simples menção de  um destes nomes é capaz de liberar. Dentre estas divindades, a única que conseguiu sobreviver ´e Ògún, pois neste Òrisá, Eledumare percebeu aspectos positivos para o ser humano e para o desenvolvimento da criação universal, tanto assim procede, que foi Ògún que ensinou o ser humano a forjar os instrumentos de ferro para o plantio. ( só depois é que o ser humano usou estes mesmos instrumentos para a guerra) devido a este fato, Ògún é considerado o Asiwaju ( o que vai a frente) dos outros Òrisás.