sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ILE IFE


Os filhos de Oduduwa iniciaram as diversas dinastias Yorùbá que se instalaram na região entre os anos 600 e 900 da nossa Era, provenientes provavelmente do Alto Nilo. Alguns especialistas afirmam que a cultura Yorùbá tem parentesco com a egípcia, e outros, com a da Núbia. Ambas as opiniões consideram também a possibilidade de que, atrávés da Abissínia( região que fica a atual Etìópia ), a cultura Yorùbá tenha parentesco com a helenista. Há, por fim, os que sustentam que Ifè, cidade santa dos Yorùbá, seja Ufa, a cidade mencionada na bíblia onde os fenícios adquìriam ouro a pedido do rei Salomão. Até hoje, no entanto, nenhuma das hìpóteses foi comprovada. Capital do primeiro reino, Ifè alcançou rapidamente um notável desenvolvimento religioso e político, desempenhando numerosas funções no seio dos diversos reinos Yorùbás, especialmente no campo espiritual. Ifè atingiu o auge do resplendor entre os séculos 12 e 14. Seu apogeu foi no século 13. A partir do século 14, deixa de ser o centro político da potência Yorùbá, mas continua a exercer o papel de cidade santa. O rei de Ifè é considerado o pai de todos os reis Yorùbá. A cidade é ainda capital do reino orìgìnário e, segundo se acredita, constitui o centro da terra. Ali, a trra teria começado a se formar e ali teria descido a divindade pai- ou mãe-de todos os viventes para fundar e reinar sobre "sua" primeira cidade. De fato, um mito mesclando história e lenda afirma que Oduduwa, o ancetral divino de todos os Yorùbá, desceu do céu e depositou sobre as águas um pouco de terra e uma galinha. Esta, ao ciscar, lançou terra em diversas direções. É assim, que, ao redor de Ifè, o mundo começou a ser criado. Não é de se estranhar, portanto, que os Yorùbá tenham como centro de sua religiosidade um Deus criador e que possuam um forte sentido da constante presença divina em sua vida cotidiana. O que não os impede, no entanto, de seguir uma religião politeísta, com sociedades iniciáticas secretas nas quais se celebravam festas com sacrìfícios humanos. Isso explica também o motivo de, ainda hoje, os Yorùbá serem muito religiosos, embora pluralistas no que diz respeito a que religião praticar. Há, por exemplo, famílias nas quais o pai é muçulmano, a mãe segue a religião tradicional e os filhos são católicos ou protestantes. A história da região ocupada pelos Yorùbá é particulamente interessante. Estados e ìmpérios se formaram na faixa entre o deserto e a grande selva, favorecidos pela abundância de água e de outros recursos naturais. E também pelo fato de ser rota obrígatória de pessoas e mercadorias provenientes dos desertos do norte em direção ao oceano. Ifè, ainda em tempos antigos, logo se transformou em terra de intensos intercâmbios comerciais e em berço de uma civilização florescente. Seus artistas utilizavam a arte para celebrar e transmitir valores considerados essenciais. A arte de Ifè, tipicamente ligada à corte, cria máscaras, cabeças e figuras de bronze, latão ou barro cozido, carregados de valor vital e modelados com tal sensibilidade, habilidade técnica e forma que chegam quase a atingir a perfeição absoluta. Numerosos estudos arqueológico da região oferecem testemunhos artísticos que não ficam devendo nada às culturas clássicas de qualquer outra região do mundo. As cabeças de bronze e as peças de cerâmica de Ifè, bem como os soldados de bronze de Benin- reino antigo que não deve ser confundido com o país que hoje leva esse nome-, figuram entre as obras-primas da arte mundial. A arte Yorùbá se desenvolveu a partir do século 14, tendo seu momentos de máximo esplendor entre 1575 e 1650. Os tecidos de ráfia e algodão, as jóias de ouro, as cerâmicas decoradas e as grandes e populosas cidades eram características de uma civilização eminente urbana. Seu eixo econ?omico e militar estava assentado sobre o uso do cavalo, que foi introduzido a partir do norte do continente. A unidade política da região se baseava na suposta unidade mitica oríginária de todos os Yorùbá. Estes constituiriam, assim, uma grande família, dirigida por chefes religiosos e sociais. N a sociedade, cada Yorùbá tinha seu lugar respeitado e sua função definida, sem problemas. Prova disso é que esse modelo de organização social durou séculos. Sem dúvida, os distintos Estados Yorùbá possuíam diferenças em termos de formas de governo. No Estado de Oyo, considerado modelo das estruturas político-militares Yorùbá, o rei- Alafim-governava com poderes semelhantes aos de uma divindade. Era escolhido entre os sucessores por um  conselho de sete sábios-os  Oyo Mesi-, que exerciam a função de ministros. Em Ifè quem mandava era o rei- Oni- assesorado pelos Obá (chefes). Aposição que cada chefe ocupava dependia da suposta data de fundação de sua respectiva comunidade. O Oni representava o ponto mais alto de toda autoridade política e religiosa, por ser descendente direto do Heróí primeiro, Oduduwa, que era , por sua vez, instrumento do ser Supremo. Mesmo tendo vida autônoma, as diversas comunidades tributavam homenagens à supremacia de Oni. Em Benin houve um período de administração republicana e em seguida, uma dinastia de reis oríginários de Ifè. Por volta de 1485-86, sob o reinado de Oba Ozolua, chegou a Benin um português, Alfonso de Aveiro, o qual, ao retornar a Lisboa, levou consigo um embaixador de Oba. Tiveram ìnício, assim, relações comerciais estáveis entre os dois países. Sendo a cultura Yorùbá típicamente urbana, a organização do Estado repousa sobre as cidades. A casa Yorùbá possui planta retangular, com uma entrada simples que dá acesso a um pátio interior, ao redor do qual há várias habitações. Os pátios cobertos sustentam-se sobre pilares, geralmente decorados. Nas casas dos chefes e nos palácios, os pilares são esculturas de figuras humanas. As mulheres , com lenços muito vistosos. Os homens, com gorros típicos. A vida social é um dever do qual ninguém imagina ser possível escapar. Famosos por seu grande tino para negócios, os Yorùbá são mercadores natos, que compram e vendem de tudo. Moram na cidade, mas voltam sem problemas a seus férteis campos na época do trabalho agrícola. A decadência da civilização Yorùbá teve ìnício no final do século 17 e começo do 18, com guerras fraticidas, a chegada dos europeus, o tráfico de escravos e a pressão exercida pelo povo peul. De religião muçulmana, os peul acabaram com a prosperidade agrícola e comercial da região. Em 1897, os soldados britânicos arrasaram a cidade de Benin e se apoderaram das melhores obras de arte. Tendo sido arrancados de sua terra para trabalhar como escravos no Novo Mundo, os Yorùbá trouxeram consigo toda a enorme riqueza de sua cultura. Foi assim que legaram como herança a este continente a música afro-americana, o blues dos Estados Unidos e o carnaval do Brasil. As grandes culturas africanas não são plantas frágeis, que morrem ao serem tocadas. Podem, pelo contrário, adaptar-se e absorver novas influências.