sexta-feira, 23 de julho de 2010

SOCIEDADE ÈFÉ - GÈLÈDÈ

Na sociedade Yorúbá mais antiga, as mulheres são consíderadas como representantes de poderes capazes de controlar reservatórios de energias espírituais imensas dentro de si. Este imenso poder pode ser dirigido para criar ou destruir a vida. Os homens da comunidade reconhecem este poder cultuando Èfé -Gèlèdè. Este culto possui como principal característica, as famosas máscaras Èfé - Gèlèdè. O ser semi-animal, semi-humano que tem, como intermediário, entre os mundos sua pele. Este fato permite compreender a importância da máscara (essência espiritual do totem, as máscaras masculinas no culto Èfé-Gèlèdè chamam-se Akògi e as femininas Abògi ). "Pois o iniciador que dança é o esp´rito luminoso do animal ", a máscara conduz a dança; esforço coletivo do clâ, não para invocar a uma divindade, mas para representar uma espécie de mímica mágica, que visa proteger e fertilizar a toda comunidade. Por causa da idéia de vida e fertilidade, o culto anual de Èfé - Gèlèdè é organizado no começo da estação agricultural (em março na África). O culto, surgiu na cidade de Ketu no décimo quarto século e foi adotado por todas as comunidades situadas no corredor comercial do estado Yorúbá a oeste, sendo diferente do culto a Èégúngún que influenciou e influencia até hoje, todo o território Yorúbá de uma forma em geral. Èfé-Gèlèdè é apenas uma parte do culto de Ìyámi Òsòròngá, a parte diurna, Èfé é a parte noturna e seu complemento.

Èfé é o Orixá Èsú em sua manifestação de pássaro noturno. Nas máscaras Gèlèdè, quase sempre estão representados pássaros e serpentes, a serpente por ser um animal essencialmente noturno e os pássaros por possuírem uma potência espíritual equivalente as das mulheres, neste sentido, as aves e as serpentes formam a expressão visível do corpo de Ìyámi. As aves representam Ìyámi porque viajam no ar (símbolo do vôo noturno- projeção astral- caracteristico da pratica da magia de Ìyámi).Assim, as aves nos ligam às serpentes mesmo que apenas através de sua oposição simbólica. Em todas as culturas , tanto as aves quanto as serpentes sempre aparecem como imagens prímárias e fundamentais da energia feminina superior do universo(e nem sempre são inimigas), pois se enquanto as aves voam em direção a magia das alturas e do sutil, as serpentes rastejam seu ventre carinhosamente aprofundando-se nos mistérios da tera. De certa forma, é fácil perceber que as aves e serpentes representam o eterno jogo de troca ene o consciente e o inconsciente, tornando-se óbvio percebermos que o encanto das aves(particlamente as noturnas) é a sua cpacidde de voar(transitr nos aspetos mais sutis da naturea) e principalmente, nestes aspectos mais sutis na  condição noturna(fonte de medo e apreensão inconsciente relacionada aos temores mais profundos dos seres humanos). No caso das serpentes elas precisam trocar de pele periodicamente e isto lhes proporciona uma aura de imortalidade. Possuem uma qualidade andrógina: esticadas, parecem falos; enroladas, assemelham-se às dobras da vulva vaginal. Com este imenso símbolo andrógino, as serpentes são  são a própia sexualidade encarnada e fortemente vivíficada na natureza. Por isso, quando se vê as serpentes enroladas nas máscaras Gèlèdè ou mesmo, participando"ativamente" da magia de Ìyámi Òs`ròngá(òsòròngá mesmo é o nome de um pássaro noturno), pode se ver a força de nossos mais antigos primórdios unindo-se a imagem original de Deus no universo, ou como alguns preferem: Deusa. voar e trocar de pele são uma magia infinita, original, arcaica e totalmente plena; sendo de força incomensurável, poucos podem transitar entre estes aspectos sutis e densos da natureza de uma forma plena, sem arriscarem-se ao vôo nturno. O culto anual a Gèlèdè, oferece tributo a potência m´stica dos antepassados das pessoas idosas e líderes da comunidade. As gèlèdè são conhecidas como mães anciãs, está em garantir uma vida construtiva, relacionando-se a fertilidade e a sabedoria do segredo da vida, no entanto, elas também possuem o mesmo poder em polaridade destrutiva. Os dançarinos de Gèlèdè são homens, contudo representam homens e mulheres em suas representações.Na dança feminina Gèlèdeé poderosa e contida, entretanto, na dança masculina é violenta e agressiva. As Gèlèdé possuem uma "ordem de entrada" nas suas ritualidades, pois seu culto(diurno) é sempre feito na praça do mercado na medida em que o ato de negociar mercadorias dentro da cultura Yorúbá é especialmente feito por mulheres. O ststus de uma mulher Yorúbá deriva em maior parte pela sua reputação em saber negociar, do que pela sua riqueza, ou o grau de "mimo" que dá a seu marido. Desde que a principal ocupação das mulheres Yorúbá, está em negociar, muitas máscaras  descrevem "comercios femininos". Estas mulheres são economicamente independentes de seus maridos e possuem o potencial de ganhar mais dinheiro do que eles. Por isso tais aspectos como paciência, auto controle, reverência e riqueza, são simbolizados como mulheres. Portanto a praça do mercado representa simbolicamente o universo e o poder feminino atuando dentro dele(agora é facil entender, poque Èsú é conhecido como Òlójá "Dono do mercado" e por isso mesmo sua grande relação com Gèlèdè). 

Texto extraido do mesmo livro de pesquisa das postagens abaixo.

domingo, 18 de julho de 2010

Sociedade Ogboni

Sociedade secreta dos Babaláwo, que em África, teve poder superior ao poder de seus reis. Aportou, reorganizou-se e sobreviveu no Brazil, tendo liderado várias revoltas negras na Bahia, as mais conhecidas entre 1808 e 1835. Muitos de seus líderes escaparam das perseguições, refugiando-se no anonimato e no sigilo de seus fíéis. Nos conta uma muito antiga lenda que no  in´cio da criação do mundo ,Ìyámi, a grande mãe ancestral deu à luz a 16 filhos. Os dois primeiros a nascer chamavam-se Ogbo e Oni. Devido a um motivo desconhecido, estes dois, começaram a lutar entre si, trazendo todo tipo de desgraças e destruição sobre o mundo. Ìyàmi ao perceber que esta luta entre seus filhos mais velhos poderia causar a completa desintegração da terra, obrigou-os a fazer um pacto de irmandade, jurando sobre determinado amuleto sagrado que nunca mais lutariam entre si, desta forma então nascendo a primeira sociedade secreta do mundo que seria nomeada, conforme os nomes  dos irmãos unidos para sempre: Ogbo e Oni, daí o nome desta sociedade ser Ogboni. A sociedade secreta Ogboni é temida e respeitada por todos que a conhecem, sendo a segunda corte judicial em terras Yorùbá. Esta sociedade possui a finalidade de proteger a comunidade e manter o estabelecimento da ordem. A esta sociedade somente poderão ser filiadas aquelas pessoas que mantenham um comportamento ético, moral, e social exemplar, não importando seu nível intelectual, raça, procedencia ou sexo. Entre os participantes desta sociedade estão os membros ativos que realizam os ritos e cerímònias secretas: Babaláwo, demais sacerdotes e os passivos são as pessoas que participam das decisões a tomar e das festas. Desta sociedade também participam políticos, doutores, advogados, militares e anciãos da comunidade. Os Ogboni incrementam cotidianamente atrvés do estudo, ritos e cerímônias de nível místico e magístico para assim afastarem de suas consciências os defeitos e os sentimentos impuros que normalmente afetam as pessoas comuns. Durante os séculos, muitas irmandades foram criadas baseando-se nos prìncípais estatutos da Ogboni, mas realmente apenas uma pequena parte destas sociedades conseguiram a unificação e o poder social da Ogboni em terras Yorùbá. Os Ogboni falam a língua Yorùbá, mas internamente possuem um vocabulário secreto com o qual denominam divindades, objetos, animais, etc. As palavras iníciáticas deste vocabulário pertencem ao idioma mais antigo, e é o idioma  que os mais antigos sacerdotes utilizavam-se para comunicar e ativar as energias, com propósitos benéficos ou prejudiciais conforme a necessidade. Os Ogboni chamam-se a si mesmos de omo-Oduduwa, que é o Òrixá criador da terra. Sendo justamente a terra, o principal elemento de culto e força espiritual nesta sociedade . A maioria dos instrumentos sagrados da sociedade Ogboni são manufaturados com o brone, que é o símbolo da força que não se deteriora ou se corrompe.Ideais estes da própia sociedade para seus membros. Além da sociedade Ogboni existem outras que devem ser citadas por sua importância e poder, estas são: A sociedade Èfé-Gèlèdé ( que possui como principal divindade a orixá Ìyámi Òsòròngá ); A sociedade Èégúngún (que possui como principal divindade o orixá Agan); A sociedade Abikú ( que possui como principal divindade o orixá Ìkú) e outros. Como já dito, a sociedade Ogboni venera a terra, e por isso seu principal orixá chama-se Onilé(A Senhora da terra).É uma divindade feminina que representa o espírito da terra na qual os antepassados estão enterrados. Assim como Olóòrun (O Deus Supremo ) está presente em todas as coisas, através D'ele foram criados Òòsàálá(Senhor do céu e da criação) e Onilé(Senhora da terra). Na verdade a própia Ìyàmi Òsòròngá, como dona da estrutura terrestre muitas vezes se mescla ao mito de Onilé, pois ambas são consideradas forças agressivas e perigosas, assim como Oduduwá (criador da terra) que é um orixá masculino, o herói da fundação do estado Yorùbá. Na sociedade Ogboni um dos principais símbolos relacionados a terra, são uma "parede de varas" que símbolizam a sabedoria e a antiguidade, assim como a interdependência entre o homem e a mulher. De grande importância sìmbólica para Ogboni é o número 3, que representa o movimento e o dinaaamismo da criação. Nos rituais Ogboni de iniciação , é utilizada uma corda na qual são amarrados 3 caracóis no pulso do iniciante, representando o apaziguamento das forças destrutivas no mundo humano (que é tridimensional). Também se valoriza por demais o lado esquerdo, pois representa a força feminina e a potência terrestre, assim existem inúmeros rituais Ogboni de caráter iníciatico  em que os participantes colocam o punho esquerdo sobre o direito três vezes, que significa uma afirmação da matéria, da vida fisíca e da terra sobre o céu, o espírito e etc, na tridimensionalidade. Por isso ao  saudarem a terra recitam os Ogboni a seguinte frase: "O leite do peito de nossa mãe é doce " e tocam o chão por três vezes. Importante é entendermos que o número três na cultura Yorubá sempre vai representar o Poder que a tudo dinamiza, ou como diz: " É a força dinâmica que une todos os elementos para um objetivo em comum ", ou seja, o atributo da Onipotência pois "somente os anciãos conhecem o segredo do número 3, aquele que dele sabe se utilizar  é Elégbara ", Todo poderoso, um dos títulos de Èsú. O numero 3, também representa a força  Àsé " O poder que faz  todas as coisas acontecerem ". Na sociedade Ogboni a terra é venerada com o intuito de assegurar a sobrevivência, a paz, a felicidade e a estabilidade social da comunidade, assim como também a longevidade e o bem estar. 

( Texto extraído do livro Ìyàmi, o mito das mulheres pássaros, de Luís Carlos da Silva.).

ÌKÚ (O SENHOR MORTE )

O Òrísá que possui a função de exercer o poder da morte chama-se Ìkú, trata-se de uma dinvidade masculina e seus mitos e formas de culto estão registrados dentro do oráculo de Ìfá, isto se deve, por ser Òrúnmilá, o orísá da sabedoria, aquele "que pode alterar a data da morte". Afirma a tradição que Ìkú começou a matar depois que viu sua mãe ser espancada e morta na praça do mercado, sendo depois dominado por seus que conseguiram que ele comesse o que lhe era proibido. Quem ensinou como anular a atividade de Ìkú, foi sua mulher chamada Olójòngbòdú.  Nos conta assim, um fragmento do verso do Odù Òyèkú Méjì:     "....Quando Ìfá falou sobre Olójòngbòdú, a mulher de Ìkú que foi chamada logo cedo pela manhã, foi perguntado o que seu marido não poderia comer, que o tornasse incapaz de matar outros filhos das pessoas? ela disse que Ìkú, seu marido, não poderia comer ratos,pois se comesse, suas mãos tremeriam sem parar; Ela disse que Ìkú, seu marido, não poderia comer peixe, poi se comesse, seus pés tremeriam sem parar ; Ela disse que Ìkú, seu marido, não poderia comer ovo de pata, pois se comesse, ele vomitaria sem parar..."      Outro método de enfraquecer a atividade de Ìkú é registrado no oráculo de Ifá, através do modo como Èsù subornou o filho de Ìkú, para que este revelasse o modo como  Ìkú  matava, Omòikú     então revela que seu pai, matava através de sua clava, tornando-se fraco sem este instrumento, o qual Èsú com a ajuda do Ijàpàá, esconde. "... Ijàpàá gbé òrúkú l'owó ikú..."  ( o cágado retira a clava das mãos de Ìkú ). Posteriormente, Ìkú faz um pacto com Òrúnmilá, através da condição dele ajudá-lo a recobrar a sua clava; então, Ìkú só levaria antecipadamente aqueles que não se colocassem sobrê a proteção de Òrùnmilá. Outro texto do Odù Ìròsùnsè, nos conta como Orí e Òrùnmilá, impediram a atuação de Ìkú sobre a cabeça de alguém. Concluindo, então, para que seja possível neutralizar a atuação de Ìkú, quando está agindo antecipadamente. Por isso, na tradição Yorùbá, acredita-se que Òrùnmilá é "O grande modificador que altera a data da morte". Todos os orixás, como agentes dinâmicos de vida, são ligados a ìkú. A mesma divindade que cria, também destrói, a mesma que gera fertilidade, também pode retirá-la e etc. E desta  atuação dependem estes orixás, de Ìkú e Eégúngún.        

(Fonte: Ìyàmi Òsóròngá e o mito das mulheres pássaros, autor  Luìz Carlos Silva.)